Todo o alvoroço até aqui provocado na vida pública brasileira envolveu basicamente agentes públicos (parlamentares, prefeitos, governadores, presidente e ex-presidentes da República, juízes) e empresas do setor de infraestrutura. Roubalheira monstruosa, cuja devassa equivale a uma revolução desarmada.
Mas há mais, muito mais.
O que se depreende da Era PT (que inclui seus parceiros do PMDB e PP - e, em graus variados, todo o espectro partidário) é que, em síntese, nenhum cofre público restou ileso. Fundos de pensão, imposto sindical, bolsa família, verbas da cultura, reforma agrária, Receita Federal, merenda escolar, presídios – nada escapou.
O secretário de Saúde de Sérgio Cabral, por exemplo, contrabandeava prótese e material cirúrgico; no mesmo segmento, descobriu-se contrabando de sangue em Pernambuco, ao tempo em que o Ministério da Saúde estava sob o comando do hoje senador petista Humberto Costa. O ex-senador Gim Argelo lavava dinheiro de propina com doações a uma igreja em Brasília; idem o ex-deputado Eduardo Cunha, ambos reconhecidamente homens de fé.
Paulo Bernardo, quando ministro do Planejamento de Dilma, cobrava um adicional dos empréstimos consignados aos aposentados. A roubalheira, com apoio logístico do PT, rendeu R$ 100 milhões.
Mas o mundo das finanças, em que Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, circulou com total desenvoltura – e que conhece como poucos -, ainda carece de devassa. O que se sabe não passa de vislumbres.
Há dias, por exemplo, o Ministério Público denunciou falcatrua na aquisição pela Caixa Econômica de ações do Banco Panamericano (cerca de R$ 800 milhões), em 2011 – governo Dilma.
A Caixa Econômica está quebrada, idem o Banco do Brasil. O TCU examina contratos irregulares do BNDES, a maior parte em obras no exterior, que somam R$ 1,3 trilhão. O governo Temer acenou com o saneamento da máquina estatal, mas o máximo que conseguiu – se é que conseguiu – foi estancar a sangria.
Nada revelou sobre o que houve, de como se chegou a esse resultado. As caixas pretas continuam lacradas. O que se sabe veio das delações premiadas e das investigações da Lava Jato.
É compreensível. O governo Temer é o segundo escalão do PT. E a lei permite que o réu se poupe de fornecer informações que o comprometam. Os esclarecimentos estão vindo pela via judicial. Os petistas roubavam em nome da causa revolucionária, que, mesmo não se consumando, oferecia-lhes pretexto moral; os peemedebistas prescindiam de causa e pretexto; bastava-lhes o produto.
Enquanto os interesses convergiram, manteve-se a aliança, que não recusava auxílio eventual aos adversários, o que explica a ausência de oposição ao longo de todo esse período.
Tudo iria bem se o país, a certa altura, não tivesse falido, na reta final do primeiro governo Dilma. A Lava Jato já estava em ação, mas poucos a percebiam, o que permitiu a reeleição de Dilma.
Deve-se à Força Tarefa e ao juiz Sérgio Moro a reviravolta que se operou na política brasileira, colocando em cena a população, em megamanifestações sem precedentes na história.
O PT foi apeado do governo pela pressão das ruas, não de seus adversários políticos. O impeachment veio apesar deles. PSDB e PT se uniram para evitá-lo. FHC, por exemplo, avalizou a honestidade de Dilma com uma veemência superior à dela própria.
O desmentido veio pelas delações dos parceiros: empreiteiros, parlamentares e ex-ministros. O estrago da Odebrecht ainda está sendo assimilado e o STF anuncia que terá de pedir auxílio a outros magistrados para lidar com a montanha de inquéritos que dali resulta. Mas há ainda as delações da Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, UTC, Delta etc. O país oficial está no banco dos réus.
Em meio a isso, Palocci entra em cena – e com ele os bancos.
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