sábado, 22 de abril de 2017

Mãe em cena: e a hora do vamos ver de Moro e Lula

“No meio do caminho desta vida / me vi perdido numa selva escura, / solitário, sem sol e sem saída./ Ah, como armar no ar uma figura / dessa selva selvagem, dura, forte, que, só de eu a pensar, me desfigura?/ É quase tão amargo como a morte; / mas para expor o bem que eu encontrei, / outros dados darei da minha sorte”
(Trecho de “Inferno”, Canto I, extraído de “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri)

Abril de 2017 corre infernal e desabalado no mundo, mas principalmente neste lado de baixo da linha imaginária do equador que nos toca viver: o incrível outono brasileiro deste tempo temerário trafega do jeito que o diabo gosta, mas com Deus de olhos bem abertos. Parece que estamos na encruzilhada entre as melhores apostas de redenção de um País (para muitos) e das maiores desesperanças (para outros tantos).

Os dias são assim: nem a senhora mãe de 93 anos de idade do figurão, do poder baiano e nacional, fica de fora. Foi arrastada também, esta semana, pela hecatombe política, governamental e moral causada pela saraivada de depoimentos, em delações premiadas, dos dois donos e dos principais executivos do império empresarial Odebrecht, no processo histórico da Lava Jato. Liberados semana passada pelo STF, devidamente acompanhados de áudios e imagens que seguem causando abalos e devastando biografias e reputações por toda parte.

Crua, popular e implacavelmente. Sem poupar ninguém com real ou aparente culpa no cartório. É bem o caso – para citar apenas um, mas emblemático, grave e assustador exemplo – da revelação feita por Hilberto Mascarenhas (deslavado executivo encarregado de tocar o departamento principal de distribuição de propinas do grupo comandado pelo patriarca Emílio Odebrecht (e seu filho Marcelo, preso há quase do  is anos em uma cadeia de Curitiba).


A partir de Salvador, a cidade de todos os santos e de quase todos os pecados (no dizer de um dos seus maiores cronistas do cotidiano, já falecido), Mascarenhas chefiava o clandestino setor que funcionou, a pleno vapor, durante anos seguidos. Principalmente, e com mais intensidade e amplitude corruptora, em períodos eleitorais ou de apresentações ou votações no Congresso, e assembleias estaduais, de projetos e medidas não de relevância pública, e sim de interesse financeiro direto da empreiteira fundada pelo velho Norberto.

Ao longo de três gerações, a maior empresa nacional da construção civil criou muitos braços. Afiou suas garras. Virou também a máquina "bem azeitada" (expressão mais ao gosto de seus donos na Bahia) de controle e dominação política e governamental, que a sociedade brasileira e o mundo cada dia descobrem um pouco mais, desde o começo da Lava Jato, quando a Polícia Federal, os procuradores da República e o juiz Sergio Moro começaram a escarafunchar a roubalheira sem tamanho alastrada na Petrobras, maior orgulho nacional até então. Práticas que vêm de longe, já se sabe, mas que encontraram em 13 anos dos governos petistas de Lula e Dilma o terreno mais pantanoso e adequado para crescer, prosperar, dominar um país e se expandir continente e mundo afora, avassaladoramente.É o que se vê, pelos rela tos de entrega da dinheirama da corrupção em quartos de hotéis, em desvãos de aeroportos, em baias de hipódromos... E as revelações mais escabrosas não param de surgir, a cada dia e a cada noticiário.

Os delatores não poupam nada nem ninguém, aparentemente. O homem do setor de pagamentos de vendidos políticos, governantes e altos burocratas do governo, Hilberto Mascarenhas, por exemplo, contou que a pessoa que recebia a propina indicava o local de entrega. O caixa-mor do propinoduto revelou então, que teve entrega de propina até em casa de mãe. Confirmou que foram pagos R$ 500 mil para o então governador da Bahia, Jaques Wagner, na casa da mãe dele, no Rio de Janeiro.

"Ele (Wagner) teve algum problema lá com a mãe dele e não queria mais que fosse usada a casa da mãe dele para fazer esse pagamento. Ele pediu e nós fizemos um esforço grande e conseguimos pagar em Salvador", contou cruamente Mascarenhas. Wagner repudiou as afirmações do homem da Odebrecht. Disse em nota ao JN, que o delator é um criminoso confesso que tenta reduzir a sua pena, "nem que para isso tenha de envolver uma senhora de 93 anos". Em Feira da Santana, na condição de secretário do governo petista de Rui Costa, reforçou a negativa ao participar de comício político mal disfarçado de ato administrativo, já de olho na reeleição do afilhado que colocou no Palácio de Ondina. A conferir.

E, como se não bastasse, ainda tivemos na quinta-feira, os depoimentos de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e de Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda, ambos com potência explosiva suficiente para deixar o ex-presidente Lula e Brasília insones e em estado de pavor. Tudo isso enquanto Curitiba vive dias de expectativas. No dia 3 de maio, o ex-presidente Lula, acusado de praticar crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro, prestará depoimento na Justiça Federal, diante do juiz Sérgio Moro.

Na capital paranaense os comentários sobre o "duelo" corre em todas a bocas, a começar pela "Boca Maldita", ponto referencial de manifestações políticas da cidade. Estive por lá no começo deste ano. No mês que vem não poderei ir. Mas espero se repita agora, algo semelhante ao pensamento expressado pelo motorista de taxi, um simpático tipo nipônico, quando conduzia o jornalista ao hotel, em janeiro. Comentei sobre a chuva que caía então em Curitiba. E o japa, tranquilo, sorrindo, falou: "é bom chover, que haja muita chuva, assim não faltará água para a Lava Jato continuar seu trabalho de limpeza de toda a sujeira em nosso país". Então, que venha maio e a chuva.

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