Falta, enfim, originalidade em um tempo em que todos os responsáveis parecem seguir a mesma estratégia como ferramenta de proteção contra a responsabilização ou culpa. Com menor ou maior grau de competência. Mas os argumentos são os mesmos. Sempre.
Todos seguem a ``Defesa dos Quatro Cachorros`` (``The Four Dog Defense``) na qual o dono de um cachorro metafórico tenta evitar ser responsabilizado quando o animal morde outra pessoa. Para isso, adota quatro argumentos usados em sequência.
``Eu não tenho cachorro``. O primeiro passo, é sempre claro. Negar tudo. Dizer que o problema não existe. Somos exemplos de excelência. Estamos sendo perseguidos. É exagero. Não aconteceu. É mentira, calunia motivada apenas por interesses escusos. A conta não é minha.
``Meu cachorro não morde``. Não há nada como o tempo para passar. Negar a existência dos fatos frequentemente deixa de ser opção. Ai o segundo passo é útil. Aceitar os fatos, mas dizer que não houve prejuízos. Foi um acidente sem consequência. Apenas evento pontual. Ninguém foi prejudicado. Foi em favor de causa maior.
``Meu cachorro não mordeu você``. Na medida em que o problema cresce, tudo vai ficando claro. E as perdas, evidentes. Portanto, confundir é preciso. Daí o terceiro passo. Confirmar que é tudo verdade, mas minimizar as consequências. De fato, alguém foi prejudicado, mas não foi você. O impacto foi sentido apenas em região muito pequena. As consequências são isoladas, contidas, limitadas a um pequeno grupo, área, departamento. Você não foi impactado por isso.
``Você foi mordido, mas a culpa é sua``. Eventualmente, o impacto é sentido. A conexão entre fato e perda fica clara, inegável. É tempo de executar o quarto passo. Nega-se a responsabilidade. Ou melhor, culpa-se outras pessoas. O sistema força a delinquência. Não havia outra opção. Todo mundo faz. O eleitor não sabe votar.
Resta torcer para não inventarem um quinto passo. Precisamos urgentemente virar a página. De preferência, para frente.
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