No Relatório, o Brasil, que já foi o 17º país mais feliz do mundo, este ano caiu para o 22º lugar. Não sei se a ressurreição da seleção brasileira, nas mãos do Tite, pode vir a melhorar nossa classificação nesse boletim de felicidade. Por enquanto, é isso aí.
Não conheço todos eles, mas não me sinto atraído a viver em nenhum desses líderes da lista. Não sei se suportaria verões em que o sol não se põe e invernos em que ele passa ao largo, como se não tivesse nada a ver com isso.
Tenho um amigo, cineasta finlandês, que organiza festivais de cinema num balneário de seu país, em pleno solstício de verão. Ele procura me atrair ao evento me contando que são três dias sem noite, em que ninguém precisa dormir. Por motivos de força maior, nunca fui a esse festival.
Não acredito muito que seja possível medir a taxa de felicidade de alguém. Não existe homem feliz ou infeliz, mas momentos de felicidade e infelicidade na vida de cada um. Cabe a nós esticar as primeiras e fazer passar mais depressa as segundas.
Parece que o levantamento do que a turma do ex-governador Sérgio Cabral tomou dos recursos públicos já chega a um bilhão de reais e ainda não se encerrou. O valor do dinheiro da corrupção pública já recuperado pelo pessoal do Sérgio Moro, até março de 2017, é de cerca de US$ 780 milhões; ou seja, uns R$ 2,5 bilhões.
Mesmo que você nunca tenha pensado em ser nada na política, imagine por um momento o que poderia fazer pelos outros, sobretudo pelos mais necessitados, com essa grana toda. E essa grana toda é apenas a ponta de um iceberg gigantesco, enfiado no oceano público do país, que ainda está sendo desvendado.
O horizonte da investigação nos permite multiplicar por muito esses valores, que poderiam produzir muita coisa em benefício da população.
Digamos que o Brasil nunca foi um país feliz, no sentido de um país realizado. Mas sempre vivemos dessa esperança. Ao longo de minha vida, já não muito curta, vivi dois apogeus dela.
O primeiro, de 1955 a 1964, foi o período dos presidentes Juscelino, Jânio e Jango, com a expectativa de que estávamos inventando um mundo diferente e melhor, alguma coisa que nunca existira antes de nós e cuja grandeza fundaria uma nova civilização.
O Brasil era a fonte dessa nova civilização, o extremo-ocidente no futuro mais justo e mais fraterno do planeta.
O outro tempo foi de 1992 a 2010, o período de Itamar, Fernando Henrique e Lula. Não se tratava mais de ensinar o mundo a ser feliz como nós, mas de sermos felizes por nossa própria conta, sem precisar se preocupar com a decadência que rolava lá fora depois da queda do muro e das ilusões ideológicas.
O abraço entre Lula e Fernando Henrique, no funeral de dona Marisa Letícia, foi o sinal retardado de uma aliança que poderia ter sido e que não foi. Ela mudaria o sentido da História do Brasil, realizando, pela primeira vez, o que já fora tentado nos fins melancólicos do Estado Novo e da ditadura militar — a união entre consciência social e amor à liberdade, somando ação e inteligência, um entendimento que nunca havia acontecido entre nós.
Hoje, estamos todos nas ruas, odiando os que mais se parecem uns com os outros, vivendo uma polarização entre os que mais pensam parecido.
Continuaremos tentando ser felizes. Mesmo descontentes, nossos artistas militantes sabem que não há nenhum artista na cadeia ou no exílio, como no passado autoritário. E os muitos que estão nas ruas podem dizer e fazer o que bem entenderem, uma diferença capital em relação a qualquer ditadura.
Quase exatos dois séculos antes do terremoto de Lisboa, em 1º de novembro de 1755, que acabou com dois terços da população da capital portuguesa, em 23 de janeiro de 1556 um terremoto em Shaanxi, na China, matou 800 mil pessoas, o maior desastre natural conhecido na História. Os apocalipses vão sempre existir, em todos os tempos, a qualquer hora. A malandragem é, mesmo assim, estar sempre tentando evitá-los e a melhor forma para isso é a busca da felicidade.
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