“CPI desvenda esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e políticos.” A manchete parece resumir o noticiário de hoje, dominado pela cobertura da Lava Jato. Saiu em 2 de dezembro de 1993, na capa do finado “Jornal do Brasil”. Naquele dia, a imprensa apresentou o relatório preliminar da CPI do Orçamento. O documento mostrava como as construtoras se organizaram para corromper parlamentares e superfaturar obras públicas.
Ainda não havia delação premiada, mas planilhas apreendidas pela Polícia Federal citavam deputados e senadores de diversos partidos. A investigação trazia outra conclusão atualíssima: o cartel das empresas era chefiado pela Odebrecht.
A papelada revela a existência de um verdadeiro governo paralelo, tocado pelas grandes empreiteiras”, afirmava a Folha. “O comprometimento se dava em três níveis: pagamento de propinas, ajuda para as campanhas políticas e presentes”, contava o “JB”.
A dimensão do caso assombrou o Congresso, onde a investigação passou a ser tachada de ameaça à democracia. Dois senadores foram ao Planalto dizer ao presidente que temiam um golpe. A CPI consultou os ministros militares e desistiu de divulgar a lista completa dos suspeitos.
O escândalo do Orçamento abalou a República, mas terminou muito aquém do que se esperava. A maior parte da conta foi paga pelos “anões”, deputados de baixa estatura e pouca expressão política. Houve quatro renúncias e seis cassações.
Do outro lado do balcão, tudo continuou como antes. Isso explica por que Emílio Odebrecht diria, 23 anos depois, que o caixa dois “sempre foi o modelo reinante no país”.
O noticiário de 1993 traz outra lembrança curiosa: o PT, que liderava a oposição, escapou invicto da lista de propinas. No ano seguinte, Lula se lançaria em campanha presidencial com um anúncio à praça: “Em princípio, nós não aceitaremos dinheiro da Odebrecht”.
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