Dessa lista de vocábulos, insistem em querer banir de nosso repertório lexical a bela palavra “mulata”, que sempre me faz lembrar de Clementina de Jesus cantando (“ensaboa, mulata, ensaboa”) e do admirável uso estético que dela fizeram os poetas de nossa música popular.
Quando dizemos “mulato”, não se tem como sobrepor, à cor, o estigma da violência sexual. Além disso, racialistas preferem esquecer o fato de que mulatas sofreram o diabo nas mãos de mulatos, longe de qualquer solidariedade racial.
A outra coisa é a insistência em fazer de tudo para que mulata venha de mula, quando existem outras hipóteses etimológicas até mais consistentes, como a que indica a origem árabe da palavra, mulad, significando cruzamento de árabe e preto. O sadomasoquismo é inseparável desse tipo de militância.
Mas o problema, na verdade, não é a palavra mulata. É a ideologia racialista norte-americana (criada originalmente pelos senhores escravistas-racistas do sul dos EUA), que, copiada pelos racialistas e a turma do "politicamente correto" no Brasil, decretou que mestiços não existem.
Os EUA são uma anomalia planetária: o único país do mundo que não reconhece oficialmente a existência de mestiços de branco e preto. Mas, em vez de fazerem uma reflexão sobre a esquisitice de serem únicos nesse quesito, eles acham que o resto do planeta é que está errado.
E querem (não raro, conseguem) impor seu ponto de vista ao mundo. É o movimento para absolutizar o absurdo binarismo ianque, a dicotomia racista, como se Camila Pitanga e Sônia Braga fossem ilusões de ótica.
Na base dessa ideologia racial que nosso ativismo acadêmico importou, o que está é o horror puritano à mistura. A mixofobia anglo-saxônica. Mas nem vem que não tem. Não queiram me obrigar a ver o mundo – e o povo brasileiro – pelas lentes racistas de uma ideologia senhorial-acadêmica incorporada pelo ativismo norte-americano.
Jamais entrarei na viagem dessa fantasia racista. E digo alto e bom som: viva o mulato! viva a mulata!
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