As pessoas passam a buscar uma certeza qualquer. No entanto, já sabemos que o presente é inexplicável e não nos levará a plenitude alguma. A ideia de “futuro” mixou. E, como não há em que acreditar, como não há verdades sólidas, inventaram esse termo para travestir a boa e velha mentira.
Parece filosofia barata (e talvez seja), mas o grande vazio atual pode ser simplesmente a saudade dos “universais”. Ou seja, conceitos que servem para nomear definitivamente, totalmente, fenômenos e sentimentos humanos: liberdade, amor, solidariedade, compaixão, direitos e deveres morais, dignidade na vida. A propósito, disse uma vez o Baudrillard: “Hoje não há mais o ‘universal’, só o singular e o mundial”. Na mosca.
Cito de novo o Baudrillard (para a desconfiança de acadêmicos que o consideram “menor”). Bem, ele falava que no tempo em que vivemos, não há mais bandeiras possíveis – só nos resta a frágil defesa dos “direitos humanos”.
É verdade: como influir num mundo que virou um pesadelo humorístico, regido por seres repulsivos como Putin, o porquinho da Coreia do Norte, o Assad assassino e, agora, um dos piores seres vivos criou uma subideologia de extrema direita: o “trumpismo”, ou seja, a rebelião dos imbecis contra qualquer progresso na qualidade de vida.
Assim, a ignorância passa a ser uma virtude: dentro dela mora a recusa contra os labirintos da vida reflexiva. A ignorância encarnaria uma verdade acima de complexidades entediantes. Assim foi eleito o Bush, assim temos agora o grande espantalho no poder (nunca pensei que teria saudades do Bush...). Bush é um hippie perto do Trump (em inglês, “to trump” quer dizer planejar fraudes!...)
E para os pobres diabos do povão, incrivelmente, as ideias mais malucas parecem revolucionárias e corajosas. Vejam o muro contra o México. Vejam seu boquete no Putin.
A fragilidade da democracia animou os canalhas do mundo inteiro. Em nome dela, Erdogan arrasa o progresso secular da Turquia, Dutarte queima veados e drogados na Filipinas, Assad bombardeia, o Putin envenena e prende adversários, e por aí vai...
A nova forma de ditadura é um design de democracia autoritária, populista; mas essa forma de tomar o poder não tem a solidez finalista de projetos ideológicos como o nazismo ou o fascismo. Não, são delírios pessoais de sujeitos malucos e carismáticos que criaram a tal “pós-verdade”, como apelidaram oportunistamente...
Trata-se de um universo de ideias (falsas) que, se repetidas persistentemente, criam uma nova plataforma de fatos alternativos que explicariam o mundo de forma simplista e dogmática: quem duvidar é inimigo e mentiroso. Buscam uma verdade absoluta que, no duro, é um sonho totalitário. O que seria da sociedade sem o uso da mentira? O que seria do homem sem a privacidade de sua loucura?
Tweets, e-mails, Facebook, são os canais das grandes mentiras digitais, com milhões de idiotas “compartilhando” informações que desconhecem. A mídia tradicional fica acuada pela velocidade de panfletos odiosos que querem mudar a vida social, como fizeram no passado os jornalecos que inundaram o século XIX e provocaram em parte a Guerra da Secessão.
Pós-verdade é uma política cultural em que os debates são caracterizados por emoções, desconectadas dos fatos. Na pós-verdade é que os demagogos repetem e reafirmam seus argumentos, mesmo que eles sejam falsos. Para a chamada “pós-verdade”, os fatos são negativos. Os fatos são pessimistas. Os fatos são pouco patrióticos. Sempre que o Trump é flagrado em mais uma mentira, ele e sua equipe inventam outra maior do que a primeira. Mesmo com fotos provando, o rato declarou que em sua posse havia mais pessoas do que na posse do Obama. E os idiotas acreditam.
O que está acontecendo hoje já tinha sido previsto pelo Tocqueville em 1831, quando ele esteve na América, durante o governo de Andrew Jackson, sórdido matador de índios e negros, além de ter jogado o país numa recessão pesada. Claro que ele é o homem do retrato no gabinete do Trump.
O trágico e o patético é que o elemento acima não tem projeto algum a não ser desmoralizar os USA, ou melhor, desmoralizar a democracia. E desmoralizar também os sentimentos humanos, como faz sempre o Estado Islâmico. E ele já conseguiu. Em 15 dias, a América virou uma piada internacional. Todos riem: como elegeram um escroto como ele?
Trump vai criar grandes crises mundiais somente para festejar seu ego. É um perigo esse psicótico no poder, como naquele filme do “Dr. Fantástico”, lembram? Ou então – o grande livro de Orwell – “1984” – só que agora em forma de chanchada criada por um cara mentalmente doente.
Trump é uma espécie de terrorista, um homem-bomba americano que pode topar até a destruição do país para provar sua doença narcísica, a psicopatia que não admite oposição alguma. Pois, no meio de um discurso presidencial, ele não protestou contra uma loja que não vendia mais roupas de sua filha Ivanka? Um presidente perder tempo com isso só prova que ele é doido.
O que fazer? Ninguém sabe. Mas é difícil imaginar esse cara por quatro anos no poder. Se bobear, o mundo acaba antes. Boa viagem.
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