segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Pequenas grandes coisas

Num estudo incluído na coletânea “New Global Frontier: Urbanization, Poverty and Environment in the 21st. Century”, Luis Mora examina aspectos contraditórios da vida urbana com relação às mulheres.

Mora parte do óbvio: o ambiente urbano é o espaço por excelência para a reconstrução ou remodelagem das relações entre os sexos. Em plano geral, todo processo de urbanização traz vantagens e desvantagens no que diz respeito à busca da igualdade entre os sexos e ao fortalecimento da mulher.

Tais vantagens e desvantagens podem ser esquadrinhadas no que diz respeito à presença feminina no mercado de trabalho, às condições de vida da mulher, à sua família e à sua participação social.

Mas, como pano de fundo ou contexto geral, é preciso sublinhar que o planejamento urbano não prima por levar em consideração as necessidades das mulheres, especialmente no tocante à oferta de serviços públicos.

arte na rua:
Podemos ver isso no aspecto da mobilidade, por exemplo, fundamental para “a inserção social e econômica em ambientes urbanos”.

O planejamento urbano não costuma levar em conta as relações entre mulher e transporte. Ou, mais precisamente, entre classe social, mulher e transporte. E Mora lembra que estatisticamente, em países pobres ou “em desenvolvimento”, mais mulheres do que homens andam a pé – e mais mulheres do que homens dependem do transporte público.

No entanto, quase nunca vejo a mínima sombra de atenção para isso da parte do poder público. Atua-se como se as situações de homens e de mulheres fossem absolutamente idênticas, ignorando-se totalmente a realidade objetiva da vida citadina.

Por isso mesmo, quero aplaudir aqui – e citá-la como exemplo a ser adotado nas grandes cidades brasileiras – a lei municipal 16.490, aprovada e já regulamentada desde outubro, em São Paulo.

A lei garante, a mulheres e idosos, que os ônibus parem fora do ponto, especialmente para eles, entre as 22 h e as 5h. A razão é simples: protegê-los da violência que domina nossos centros urbanos. Protegê-los de assaltos, estupros, etc.

Isto nos mostra, mais uma vez, que podemos lidar com as cidades não apenas na dimensão macro, com grandes obras urbanísticas. Mas igualmente – e com eficácia – em escala menor, que envolve diretamente as pessoas.

E acho justo privilegiar mulheres e idosos. É claro que a violência não atinge somente eles. Mas um idoso, que vá ao chão num assalto, pode não se recuperar mais. E não tenho notícia de que marmanjos sejam currados com frequência em nossas ruas.

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