domingo, 13 de novembro de 2016

Cadê o futuro?

Nós somos o país do futuro! Eu era criança e ouvia isso. Lembro que na época o presente era complicado, e o passado havia sido difícil. No entanto, nada disso importava, afinal, habitávamos o país do futuro. O Brasil não tinha furacão, terremoto nem bomba nuclear. “Plantando-se, tudo dá”, ouvia-se à época.

Eu crescia esperando o gigante adormecido acordar. Saibam os que são jovens agora que é muito bom ser criança e adolescer, tendo fantasias, sonhando, crendo no futuro, acreditando que tudo será melhor, maior. Aliás, é muito bom olhar no horizonte e alguém colocar as mãos nos seus ombros e dizer: “meu jovem, um mundo maravilhoso te aguarda...”

Confesso que, na minha época, a TV Itacolomy, sempre na liderança, nem sonhava com a Rede Globo e funcionava das 18h às 22h. Então, jogar uma pelada no Colégio Arnaldo, ir à turma do Salivão na rua Carandaí esquina com a Piauí, escutar Beatles, falar de paz e amor, longe de ser ridículo, servia de pano de fundo para discutir a ditadura, a guerra do Vietnã, discutir se o mundo deveria se vergar ao capitalismo ou ao comunismo. Valia a pena. Só havia um mundo: o real. E o olho no olho.

crânio com óculos psicodélicos realmente fica muito bom o contraste entre cores:
Sinto falta de ter futuro. Para uma criança, um adolescente, um adulto jovem ou um idoso, o incerto, o insano e o trágico não deveriam ser o esperado. Sem esperança, o caminhar é silente, cabisbaixo, deprimente. Associar o que está por vir ao fim dos tempos é reconhecer a nossa incompetência em construir nosso passado e usufruir do nosso presente. Queria dizer aos filhos que “nós, pais…”.

Mas cadê nossos filhos, que não nos rodeiam? Nem nos ouvem, hipnotizados, sequestrados e adotados que foram pelos eletrônicos, habitando o ciberespaço, nas redes e nos games no quarto ao lado, tão perto, mas tão longe? Terão emprego ou continuarão parasitando os pagadores de carnês, maltratando os que habitam o mundo real do dia a dia, os chatos dos adultos mortificados pelas preocupações da sobrevivência imediata? Pois para os que habitam a tela, só existe o presente! Ele é virtual, obedece a ágeis e nervosos toques em telas e gira em incontáveis aplicativos e recursos. Os jovens estão em mil lugares, menos aqui mesmo. Não se interessam pelo futuro.

Os idosos já estão no futuro... Do pretérito, tentando resgatar lembranças de tempos em que ser feliz era uma coleção de pequenas coisas simples e mágicas. Aos adultos, a pressão de competir ou extinguir, a sucessão de más notícias, a constatação de que fomos enganados. Não éramos o país do futuro, mal éramos um país. Viramos um mundo global. Um mundo disforme, injusto, paridor de excrescências como um Trump aqui, um Putin ali, um Assad acolá. Pensando bem, se a eternidade compensar, o tempo é um mero detalhe.

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