quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Decisão do Supremo pode ajudar brasileiros a perderem complexo de vira-lata

Nelson Rodrigues estava com a razão. Brasileiro tem mesmo complexo de vira-lata. Quer mostrar que é rico, superior, grandioso, e justamente por isso, tudo acaba dando errado. Conseguimos chegar lá, somos o quinto maior país em território e população e a oitava economia mundial, mas isso não significa nada, porque não houve a necessária distribuição de renda nem o apoio aos carentes. Pelo contrário, a riqueza total insiste em conviver com a miséria absoluta, e assim a criminalidade ficou descontrolada, as elites e até a classe média tiveram de passar a viver literalmente atrás das grades.

O pior reflexo desse complexo de vira-lata foi o surgimento dos novos ricos na política e na administração pública, todos eles prosperando à custa do erário ou da “viúva”, como se dizia antigamente. Com o surgimento do PT, houve forte esperança de que isso pudesse mudar, a política fosse moralizada, a exploração dos recursos públicos diminuísse, a vida se tornasse mais simples e igualitária, mas foi apenas um sonho.

Na verdade, o PT de Lula & Cia conseguiu ser pior do que os outros partidos, a decepção hoje é enorme, conforme ficou demonstrado nas urnas pelo número recorde de abstenções, votos brancos e nulos, embora no Brasil votar ainda seja obrigatório.

Para passar o país a limpo, a palavra mágica é “simplicidade”. Em algum ponto da curva, perdemos o rumo do interesse público, que se confunde com o interesse nacional. Governantes, parlamentares, autoridades em geral e até mesmo juízes passaram a se mover em função de interesses meramente pessoais. Não que estivessem corrompidos, na expressão mais rigorosa do termo, mas se deixaram impregnar pelo luxo das mordomias, dos cartões corporativos, dos carrões de chapa branca, dos múltiplos penduricalhos em suas remunerações.

De repente, a simplicidade se perdeu, o complexo de vira-lata passou a prevalecer, é preciso ser cada vez mais sofisticado, viajar para o exterior, ter contas bancárias em paraísos fiscais, e tudo isso na ilusão de ser possível se tornar um cidadão do mundo, sem perceber que isso não existe, é uma quimera, ninguém consegue se despir do passado e de suas origens, a menos que se torne um completo débil mental.

Diante dessa postura decepcionante e constrangedora das elites brasileiras, às quais se incorporaram grotescamente as lideranças políticas e sindicais que antes diziam lutar pelo povo, é fundamental que os milhões de brasileiros que ainda não se deixaram contaminar pelo complexo de vira-lata agora ajudem a repensar o Brasil e educar adequadamente as gerações futuras, para que se dispam dessas fantasias exóticas e passem a valorizar nosso país, nossa terra e nossa gente.

As gerações mais velhas, que ainda estão no poder, fracassaram inteiramente e estão tomando uma lição dos jovens que acreditam na meritocracia, estudaram, fizeram concursos públicos e estão hoje mostrando serviço em três instituições que honram este país – a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e a Magistratura Federal.
Precisamos nos esforçar para que o exemplo desses jovens frutifique e se espalhe pela administração pública nos três Poderes, impregnando também os colégios e as universidades. Eles representam o melhor que nós temos, é fundamental que sejam prestigiados.

Nesta quarta-feira, o gigantesco esforço deles quase caiu por terra, no julgamento do Supremo que poderia libertar todos os réus da Lava Jato e outros criminosos desprezíveis, como o ex-senador Luiz Estevão. Por apenas um voto, a Lava Jato foi preservada e milhares de réus que continuavam impunes podem se preparar para cumprir as penas a que já foram condenados.

Portanto, nem tudo está perdido. Os brasileiros têm bons motivos para comemorar.

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