terça-feira, 13 de setembro de 2016

Os asnos do Palácio do Planalto e a lição de Voltaire

De 1715 a 1723, depois da morte de Luís XIV, a França foi governada por um Regente, tio de Luís XV, ainda uma criança. Jovem afoito e estouvado, chegou a Paris François Marie Arouet, para tornar-se um dos principais críticos dos costumes da realeza e do clero. Apelidava-se de Voltaire. O Regente vira-se obrigado a intenso programa de contenção de gastos e despesas, determinando, entre outras medidas, que se vendesse a metade das cavalariças reais. Voltaire escreveu logo depois que melhor faria o Regente se em vez das centenas de cavalos de raça, vendesse o monte de asnos que evoluíam em torno do trono.

Num domingo, passeando pelo Bois de Boulogne, o Regente deparou-se com Voltaire. Cumprimentando-o, disse que daria a Monsieur Arouet a oportunidade de apreciar uma das mais bizarras vistas de Paris, que ele certamente não conhecia.

Logo vieram os soldados e levaram Voltaire para a prisão da Bastilha, onde ficou por quase um ano. Tinha liberdade para escrever, e lá completou a peça “Édipo”, de amplo sucesso na capital francesa por conta das alusões a tiranos, fidalgos e sacerdotes.


Amigo influentes conseguiram que o Regente revogasse a prisão e fizesse mais, assinando decreto que concedia ao jovem autor uma pensão vitalícia “para que enfrentasse as despesas com habitação e alimentação”.

De volta, Voltaire escreveu que aceitava a oferta, mas apenas pela metade. Agradecia que o tesouro real cuidasse de sua alimentação, mas quanto à sua habitação, deixasse que ele mesmo cuidaria…

Nova ordem de prisão foi expedida, mas o Regente tratou de negociar: soltaria Voltaire se ele embarcasse imediatamente para a Inglaterra, o que aconteceu. Ficou proibido de frequentar Paris, o que só fez aos noventa anos de idade.

Esse episódio é pinçado da larga biografia do irreverente gênio da literatura francesa, a propósito das dificuldades que o nosso Regente, versão 2016, vem enfrentando. Seria melhor que oferecesse para seus desafetos uma visão de Brasília, tomada da Papuda. Depois, uma sinecura qualquer para que ninguém recomendasse dever livrar-se dos asnos que evoluem no Palácio do Planalto…

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