O período eleitoral é momento especial para aumentar a consciência política do povo, discutir a importância e o valor do voto na aquisição e manutenção da cidadania, do bem comum, bem como colocar em debate a cidade, o Estado e o país que queremos.
Quando da escolha de um prefeito ou uma prefeita, o que faz sentido é indagar o que queremos da futura administração da cidade, pois todo município é, no mínimo, dois, e o caminho da cidadania implica diminuir o fosso que separa um do outro, adotando a equidade: mais para quem precisa de mais.
Esperei as eleições municipais de 2016, as primeiras após a proibição do financiamento empresarial, sonhando que elas estabelecessem um novo patamar, sob o concurso das novas tecnologias de informação, para as eleições como momento cívico solene: das andanças, das conversas, da busca do voto pelo convencimento presencial das candidaturas. E sonhei até que quem se elegesse mostrasse os sapatos gastos nas perambulações pelo voto!
Do que tenho lido, ouvido e visto na TV, a maioria expressiva das candidaturas às prefeituras e à vereança está perdida e sem saber como fazer uma campanha pé no chão, sem dinheiro a rodo! As candidaturas parecem morar numa bolha de vidro, num país das maravilhas, nada a ver com a atual conjuntura brasileira de perda de direitos, como se mudar o mundo hoje, mesmo o microcosmo municipal, e o futuro só dependesse da bondade de cada um deles. Para pedir voto, todo mundo é igualmente santo e tenta nos impingir que suas vitórias seriam privilégios de cada um de nós!
Com raras exceções, nem sequer dão ideia de que sabem qual é o papel de um vereador, de um prefeito, até confundem o que é da alçada do Parlamento e do Executivo! Ao fim de cada programa eleitoral, quedo-me a indagar de qual país são as figuras que pedem o meu voto.
O cenário é de enormes dificuldades, com quase todos os governadores de Estado que nem sequer se preocupam em responder aos casos de síndrome de zika congênita; antes, com prefeitos que nem dão conta de matar mosquito – em geral por negligência; com as ameaças à universalidade do Sistema Único de Saúde (“Saúde, direito de todos, dever do Estado”); o fato de que, pela primeira vez em 13 anos, o reajuste do salário mínimo será menor do que a inflação; com anúncios de cerceamento ao acesso ao Bolsa Família, que hoje abriga 50 milhões de pessoas e é o maior programa do mundo de distribuição de renda; sem falar na síndrome de terror de mudança nas regras das aposentadorias, até naquelas em vigor; e o congelamento dos investimentos (que estão chamando de gastos!) em saúde e educação por 20 anos!
Num cenário assim, seria bastante salutar que candidaturas à vereança e às prefeituras assumissem compromissos da defesa dos direitos que correm riscos, sobretudo na saúde e na educação; de apoio às lutas pela manutenção dos direitos; e de revitalização dos conselhos locais e municipais de saúde, como trincheiras excepcionais de luta popular, tendo o controle social como polo de aglutinação, sobretudo contra a “prefeiturização” deles, como tem sido a regra geral pelo país afora!
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