Fui contra o impeachment desde o início, escrevendo inclusive artigo sobre o assunto na “Folha de S. Paulo”. Ao mesmo tempo, sei que nenhum “fora Temer!” seria possível, se antes Dilma e o PT não tivessem dito, enfaticamente: vem, Temer!
Não, não vou embora para Pasárgada alguma. Não sou amigo de nenhum rei. Não vou desistir de nada. Nem virar as costas ao nosso Brasil.
Mas o que mais me interessa, neste momento, é outro lance. É a questão: quais serão os novos caminhos da política e da sociedade brasileiras? Como pensar o assunto de forma ao mesmo tempo aberta, rigorosa e generosa?
Mesmo que quisesse (e não quero), sei que não tenho a menor vocação maniqueísta. E muito menos aceito a atual propensão brasileira, vigente na mídia e nas redes sociais, de baratear o debate, com uma legião de semiletrados agressivos se achando donos absolutos da verdade.
O indiano Amartya Sen fala uma coisa bem interessante sobre o tema/problema, em seu livro “Identity and Violence”. Vou repeti-lo aqui.
Se lembra que uma mesma pessoa pode ter várias identidades, simultaneamente. Digamos: ser bissexual, falante do português, católico, amigo e estudioso do mundo muçulmano, professor de arquitetura, torcedor do Fluminense, defensor dos direitos das mulheres, etc.
Diante desse quadro múltiplo, um adversário seu seleciona e absolutiza apenas uma dessas identidades: ser amigo de muçulmanos, por exemplo.
Ao fazer isso, o sujeito “miniaturiza” (para usar a expressão cara ao próprio Amartya Sen) seu adversário. Faz uma caricatura dele. Reduz o indivíduo a somente uma de suas almas.
Pois bem. Eis aí uma atitude que acabou tomando conta, de forma avassaladora, do cenário brasileiro. Estamos todos nos miniaturizando uns aos outros – triste e burramente.
E não quero saber disso. Não busco nunca o reducionismo. Mas – sempre – a complexidade e a riqueza das pessoas e das coisas. Logo, não me convidem para o “foda-se Dilma”, nem para o “foda-se Temer”. Fodam-se ambos. Quero outros caminhos. Outros papos. Outras palavras.
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