segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Não existe outro horizonte?

Vamos tentar olhar à frente, por favor? Parar de ficar batendo nas mesmas teclas? Começar a procurar de fato alguma coisa realmente nova?

Fui contra o impeachment desde o início, escrevendo inclusive artigo sobre o assunto na “Folha de S. Paulo”. Ao mesmo tempo, sei que nenhum “fora Temer!” seria possível, se antes Dilma e o PT não tivessem dito, enfaticamente: vem, Temer!

Que passem noites, horas e dias o próximo  horizonte será meu guia nos principais momentos  de agonia:
Mas cansei. Evito turmas de um lado e do outro. Não aguento mais de tantas empulhações, esquecimentos, sectarismos, etc. De tanta estupidez supostamente verocêntrica. De tantos decretos fulminantes rotulando os outros (de um lado ou de outro, repito), num país ontologicamente dividido entre mortadelas e coxinhas.

Não, não vou embora para Pasárgada alguma. Não sou amigo de nenhum rei. Não vou desistir de nada. Nem virar as costas ao nosso Brasil.

Mas o que mais me interessa, neste momento, é outro lance. É a questão: quais serão os novos caminhos da política e da sociedade brasileiras? Como pensar o assunto de forma ao mesmo tempo aberta, rigorosa e generosa?

Mesmo que quisesse (e não quero), sei que não tenho a menor vocação maniqueísta. E muito menos aceito a atual propensão brasileira, vigente na mídia e nas redes sociais, de baratear o debate, com uma legião de semiletrados agressivos se achando donos absolutos da verdade.

O indiano Amartya Sen fala uma coisa bem interessante sobre o tema/problema, em seu livro “Identity and Violence”. Vou repeti-lo aqui.

Se lembra que uma mesma pessoa pode ter várias identidades, simultaneamente. Digamos: ser bissexual, falante do português, católico, amigo e estudioso do mundo muçulmano, professor de arquitetura, torcedor do Fluminense, defensor dos direitos das mulheres, etc.

Diante desse quadro múltiplo, um adversário seu seleciona e absolutiza apenas uma dessas identidades: ser amigo de muçulmanos, por exemplo.

Ao fazer isso, o sujeito “miniaturiza” (para usar a expressão cara ao próprio Amartya Sen) seu adversário. Faz uma caricatura dele. Reduz o indivíduo a somente uma de suas almas.

Pois bem. Eis aí uma atitude que acabou tomando conta, de forma avassaladora, do cenário brasileiro. Estamos todos nos miniaturizando uns aos outros – triste e burramente.

E não quero saber disso. Não busco nunca o reducionismo. Mas – sempre – a complexidade e a riqueza das pessoas e das coisas. Logo, não me convidem para o “foda-se Dilma”, nem para o “foda-se Temer”. Fodam-se ambos. Quero outros caminhos. Outros papos. Outras palavras.

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