quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Tempestade perfeita

Por conspiração dos astros, ou não, o Partido dos Trabalhadores enfrentará as eleições municipais deste ano em meio a uma tempestade perfeita. Não bastassem a proximidade entre a votação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, coisa já resolvida, e o envolvimento cada vez mais cabeludo de Lula na Lava-jato, não há sinais de que daqui até outubro o governo de Michel Temer cometa grandes deslizes.

Para infortúnio do PT, dificilmente as eleições municipais serão “paroquializadas”. Ao contrário, elas deverão assumir um caráter plebiscitário antipetista, particularmente nos grandes centros urbanos.

Arma-se um dilúvio à frente dos petistas e não há arca de Noé alguma à vista. A opção por fazer chapas próprias ou com “frentes de esquerda” minúsculas e de retorno ao enfrentamento aberto, quase que numa reedição da política de “classe contra classe”, são produtos mais do desespero do que de uma estratégia articulada para fazer frente à conjuntura extremamente adversa.

O Partido dos Trabalhadores ensaia um giro à “esquerda”, uma radicalização, exatamente em momento de refluxo, um contrassenso com potencial de ampliar mais ainda seu isolamento.

É como se o PT mergulhasse em busca do passado perdido. Só que a história não gira para trás.

Nestas eleições o partido vai enfrentar algo inimaginável até bem pouco tempo: a concorrência pela esquerda; segmento do eleitorado que foi durante bom par de décadas sua reserva de mercado.

A ameaça vem principalmente do PSOL, mas não exclusivamente dele. Em Porto Alegre, os petistas têm pela frente Luciana Genro (PSOL), em Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), no Rio abriga-se na candidatura de Jandira Feghali (PC do B), e deve comer poeira atrás das candidaturas de Marcelo Freixo (PSOL) e Alexandre Molon (Rede). Em Salvador, não tendo como fazer frente à avalanche de ACM Neto (DEM), sequer lançará candidato. Vai de Alice Portugal, também do PC do B.

Vamos a São Paulo. Há um ano, onze entre dez analistas diziam que o segundo turno da eleição paulistana seria entre Fernando Haddad e mais outro nome.

Hoje, Haddad corre sérios riscos de ficar de fora do segundo turno. O eleitorado historicamente petista vem sendo comido a montante e a jusante, nas universidades e na periferia, por Luiza Erundina (PSOL) e por Marta Suplicy (PMDB). E Celso Russomano (PRB) – que lidera as pesquisas, mas está enrolado com a Justiça - e João Dória (PSDB).

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O estupor, o terror e o pesadelo tomam conta dos petistas só em pensar nessa hipótese, cada dia mais real. O futuro do PT está na razão direta do desempenho de Haddad. Uma derrota do atual prefeito de São Paulo levará seu partido a adiar, por anos a fio, qualquer veleidade de voltar ao poder em escala nacional.

Na hipótese bastante provável de Lula não ter condições políticas e jurídicas, ou as duas, para disputar 2018, Fernando Haddad seria o nome disponível na prateleira, seria a “cara nova” do PT.

O problema é combinar com os russos, com os paulistanos. A administração Haddad não criou marca e é uma das mais rejeitadas da história da capital. Ciclovias, limite de velocidade dos carros, utilização da Avenida Paulista para lazer, podem sensibilizar segmentos das camadas médias, mas são temas absolutamente distantes do cotidiano de quem vive fora do centro expandido.

A expressão concentrada da tragédia petista é exatamente essa: em 2012 Lula carregou Fernando Haddad a tiracolo, foi seu grande eleitor. Agora, o prefeito vai ter de esconder o morubixaba em seu programa de TV para não ser escorraçado pelos eleitores.

E quem disse que a tempestade passará em outubro? Para o PT, ela irá, no mínimo, até 2018.

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