Em julho de 2005, 300 atletas olímpicos e paralímpicos brasileiros que viviam longe dos holofotes de patrocinadores, recebiam pela primeira vez um cartão magnético do Ministério dos Esportes para sacar um auxílio mensal do Governo, pelo período de 12 meses. A Bolsa Atleta, que variava de 300 reais a 2.500, tinha como objetivo incentivar potenciais campeões a se dedicarem só aos treinos e se aproximarem do pódio de competições nacionais e internacionais. Dez anos e meio se passaram, novas categorias de bolsas foram criadas, com valores que podem chegar a 15.000 para medalhistas, mas os frutos dessa iniciativa ainda não foram colhidos, na visão de Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef) e da Academia Olímpica Brasileira (AOB).
O especialista cita o ginasta Arthur Zanetti, campeão olímpico nos Jogos de Londres, como um exemplo de que é preciso fazer mais do que conceder auxílio financeiro aos atletas brasileiros para que o país evolua nos esportes em escala global. "Zanetti, que ganha uma bolsa do Governo para se dedicar à carreira, treina em um galpão em São Caetano, sem a menor infraestrutura. É inacreditável como nem ele pode dispor de um centro esportivo decente para treinamento".
Mas não é apenas no topo da pirâmide esportiva que o problema reside. É principalmente nos estágios iniciais de vida que muitos potenciais atletas nunca chegam a se desenvolver no esporte. "Em 40% das escolas não existe nem quadra para as crianças praticarem modalidades esportivas e serem descobertas por seus talentos. Também faltam professores de educação física. Hoje, são pedagogos que ocupam esses espaços vagos, e as horas destinadas à disciplina, que é obrigatória, acabam virando atividades meramente recreativas".
A forma como o programa Bolsa Atleta foi concebido também justifica, em partes, o insucesso da empreitada brasileira de angariar posições de destaque nas competições mundiais. "O foco do programa tem sido apenas o de aumentar o número de medalhas para subirmos no ranking olímpico. Para isso, são priorizadas modalidades de esporte individual. E o Brasil é um país cuja tradição está no esporte coletivo", analisa. Ainda assim, o especialista não descarta a importância do auxílio financeiro para os atletas, que muitas vezes é a única fonte de renda desses profissionais. "A bolsa dá oportunidades para o atleta se projetar no esporte, mas é uma medida meramente paliativa", complementa.
Ainda que desanimadora, principalmente para um país que tem como meta chegar ao 10º lugar no ranking de medalhas nas Olimpíadas de 2016, a análise de Steinhilber tem respaldo em dados históricos. Antes do Bolsa Atleta, nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, o Brasil ocupava o 16º lugar no ranking de medalhas, com 10 no total, das quais 5 eram de ouro. Nos primeiros jogos que já contavam com o auxílio, em Pequim (2008), o país caiu para a 23ª colocação, ainda que tivesse mais medalhas, pois somente 3 eram de ouro. Já em Londres, quatro anos depois, o país subiu apenas um degrau, passando para o 22º lugar, repetindo o número de medalhas de ouro.
Neste ano, foram contemplados com o Bolsa Atleta 358 dos 465 esportistas que disputam as Olimpíadas do Rio de Janeiro, o que representa 77% do total. Os investimentos, contudo, não se limitam a atletas olímpicos e paralímpicos. O programa, cujo edital foi divulgado com um mês e meio de atraso no Diário Oficial, beneficia 6.152 atletas de todo país, incluindo modalidades não-olímpicas, e custará 80 milhões de reais aos cofres públicos nos próximos doze meses. De acordo com um balanço divulgado pelo Ministério dos Esportes em julho, o Bolsa Atleta, durante seus dez anos de atuação, já concedeu 43.000 benefícios, no valor de 600 milhões de reais para 17.000 atletas.
Além do Bolsa Atleta, em 2013 o Governo lançou o Bolsa Pódio, destinado a competidores medalhistas. Nessa categoria, que faz parte do Plano Brasil Medalhas, e conta com patrocínio de estatais, foram investidos 287,3 milhões de reais em 399 atletas, a maioria pertencente a modalidades individuais.
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