sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Como no Rio, Vila dos Atletas de Tóquio vai privilegiar luxo em vez de moradia social

A exemplo do que está planejado nos Jogos do Rio de Janeiro, a Vila dos Atletas da Olimpíada de Tóquio, daqui a quatro anos, também deverá ser transformada em condomínio de luxo, sem espaço para moradias sociais.

Segundo Masa Takaya, diretor de comunicações do Comitê Tóquio 2020, a ideia é transformar o complexo em uma "região icônica da vida urbana de Tóquio", voltada a "apartamentos de luxo, como no Rio de Janeiro".

Nos Jogos de Londres de 2012, parte dos apartamentos foi reservada para população de baixa renda após o final da competição.

A Vila dos Atletas, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, vem sendo alvo de polêmica nos Jogos do Rio por obras inacabadas e críticas das delegações. Antes, o projeto já havia sido criticado por não prever uma cota de moradias sociais.

O empreendimento é chamado "Ilha Pura", com apartamentos que devem ser vendidos por até R$ 1 milhão .

"Cada cidade tem um planejamento diferente", disse Takaya à BBC Brasil. "Nosso plano é diferente daquele de Londres, realizado em 2012. No Japão a Olimpíada prevê um projeto de renovação da região da baía de Tóquio, onde será construída a Vila dos Atletas, que após os Jogos se transformará em um condomínio residencial", diz.

Área da Vila japonesa deve dar lugar a condomínio
de luxo com vista para a baía de Tóquio
Takaya diz que a diferença entre o que está vendo agora no Rio e o que viu há dois anos, em sua primeira visita, é "impressionante".

"Esta é nossa última oportunidade de observar uma Olimpíada antes dos Jogos de Tóquio. Tenho trabalhado em parceria com meus colegas no Comitê Rio 2016 e posso dizer que tudo parece pronto. É impressionante o que fizeram no Rio nos últimos dois anos", diz.

Questionado sobre problemas específicos que poderiam trazer lições para Tóquio, o diretor prefere a diplomacia. "Cada cidade enfrenta seus próprios desafios, tem seu próprio planejamento. O que estamos levando como inspiração é a grande dedicação do Comitê Rio 2016 na organização destes Jogos."

Apesar de ressaltar que cada Olimpíada é um caso diferente, com planejamento e desafios específicos, Takaya comentou sobre dois temas comuns aos Jogos nas últimas décadas.

Como no Rio, onde milhares de famílias foram removidas de suas casas para construção de obras olímpicas, o processo em Tóquio também deve ocorrer, mas em escala menor, pois muitos dos locais de competição e infraestrutura já estão prontos.

"Algumas famílias terão que deixar suas casas para a construção do novo estádio nacional, e a Prefeitura de Tóquio está providenciando novos apartamentos para eles", diz.

Sobre a possibilidade de os Jogos de 2020 extrapolarem o orçamento apresentado ao Comitê Olímpico Internacional (COI) no processo de candidatura, como tem ocorrido nas Olimpíadas recentes, Takaya diz que os organizadores japoneses "não estão otimistas".

"A Prefeitura de Tóquio e o governo do Japão têm se reunido com o Comitê Tóquio 2020 para revisar responsabilidades e papéis que cada um deve assumir com relação aos custos. Não estamos otimistas, mas uma vez que isso for concluído, poderemos identificar exatamente o que cada um deve fazer."

No Rio de Janeiro, a expansão da linha 4 do Metrô, que liga a Zona Sul à Barra da Tijuca, obra mais cara e mais importante da Olimpíada, havia sido orçada inicialmente em R$ 5,4 bilhões, mas já consumiu R$ 10,4 bilhões, praticamente o dobro da estimativa.

A obra corresponde a um quarto dos R$ 39,1 bilhões gastos com os Jogos e há estações inacabadas que deverão consumir mais recursos no futuro.

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