Com todo o barulho que torturam os ouvidos desde que o noticiário foi dominado pela crônica policial, fica fácil, e até compreensível, esquecer-se do obvio. Negligenciar os deveres. Ceder à tentação de acreditar que, de alguma maneira, as coisas se resolverão sozinhas. E tudo voltaria ao normal.
Nada parece ser a palavra da moda. Lá se vão anos sem que se decida qualquer coisa. E o resultado, claro, continua sendo o nada. Nada de resolver problema. Nada de produzir. Nada de reformar. Nada de criar. Apenas o vácuo.
O nada é nocivo, insidioso. Mas, por alguma razão, tolerado. Enquanto a degradação instrucional acelera, as almas se corrompem. A esperança se vai. O tempo passa. E nada é tudo o que acontece.
É um eterno esperar. Não sabemos bem o que. Ou por que. Mas esperamos. Pacientemente, cada um vai assumindo um papel de espectador, conformado a ser participe neste teatro do absurdo.
Entra dia, sai dia, e a gente não resolve. Adia soluções para poder aproveitar eventos esportivos. Aguarda o final das férias. Empurra para frente. Enrola. Procrastina. Faz tudo para não resolver, não terminar, não decidir. E criar o nada.
Viramos uma nação que resolveu parar no tempo na esperança de que o tempo pare. Ficamos para trás todos os dias. Cada vez mais. O tempo todo. País de dois presidentes. E nenhum líder. Por pura incapacidade de decidir, de virar a pagina, de resolver. Optamos por viver no limbo. Abraçamos o nada. Com paixão.
Nação que, movida por auto-critérios, escolheu o autoengano. E o nada.
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