"É hora de discutir sobre estes homens medíocres que ocupam um lugar importante em sua época e que mobilizam uma imprensa comparável em produção à edição de livros".(Honoré de Balzac, em citação da antologia "Contra la Prensa" (Contra a Imprensa), do jornalista e pesquisador argentino Esteban Rodriguez, composta de textos críticos de grandes autores, em diferentes épocas, sobre a imprensa e a política).
O mais engraçado de tudo isso (ou suspeito seria a palavra mais correta para definir a situação?) é que Lula transfigurou-se, se comparado há menos de dois meses, quando apareceu com ar destroçado no ato dos petistas e aliados no Palácio do Planalto e imediações, no bota fora da mandatária – manhã seguinte à fragorosa derrota no Senado. Desde então, passou a ser citado e apresentado, piedosamente, como um ser praticamente em "estado vegetativo”, pessoal e politicamente falando. Em silêncio, afastado dos holofotes, macambúzio, dizia-se nas falas e escritos de certos nichos da imprensa nacional (e estrangeira também): "Lula está de saco cheio". "Lula entrou em depressão profunda". "Lula não consegue pegar no sono, preocupado com familiares em seu apartam ento de São Bernardo (SP)".
O burburinho começou, segundo as fontes e os veículos, quando o criador e principal líder do PT, começou "a demonstrar alheamento e desinteresse pelo futuro de seu próprio partido, deixando de comparecer não só às tertúlias do Instituto Lula, em São Paulo, mas, principalmente, à reunião da cúpula partidária, em Brasília, que discutiu a sobrevivência e o discurso do PT, "até Dilma ser julgada pelo Senado".
"Amaldiçoado seja aquele que pensar mal destas coisas", diriam os irônicos franceses. Quem sabe assim pensaria também, se vivo fosse, o velho e sábio escritor Honoré de Balzac, citado na abertura deste artigo? Responda quem souber.
O que sei e o que afirmo é: o ex-presidente petista retornou com a corda toda (ou quase), no começo desta semana junina, mês de Santo Antonio, São João e São Pedro, de grandes festejos nordestinos. Mas a volta do dirigente petista, encrencado com as firmes e cada vez mais definitivas investigações, interrogatórios e sentenças do juiz Sérgio Moro, em Curitiba, se deu no palco da Fundição Progresso. A mais famosa gafieira carioca, localizada no centro do Rio de Janeiro, a poucos metros de um dos mais representativos cartões postais da Cidade Maravilhosa.
No mesmo local onde, há menos de dois meses, comandara (ao lado de Chico Buarque e do então ministro da Cultura, Juca Ferreira), o constrangedor e desastroso ato denominado "Cultura pela Democracia", com a casa lotada de dirigentes sindicais e estudantis, intelectuais e artistas (neste caso, gente, em geral, bafejada pelas graças e pela grana da Lei Rouanet). Seguido da manifestação "popular e artística" pró-Dilma, nos Arcos da Lapa, na noite da humilhante derrota do PT e aliados, na Câmara, em Brasília, que prenunciava a queda inapelável de Dilma Rousseff, em seguida afastada pelo Senado das funções presidenciais que ela praticamente jamais exerceu em seu segundo mandato. Tudo transmitido ao vivo e à cores pela TV Brasil e "afiliadas"da Televisão Educativa no país inteiro, na festa do " ;jornalismo chapa branca" patrocinado pelos governos Lula e Dilma.
No ato desta segunda-feira, 6, a TV Brasil (em guerra intestina por mudança desde o começo do governo Temer (PMDB), não fez cobertura ao vivo. Mas ainda assim foi simbólico e revelador o ato de reaparecimento de Lula - "contra as privatizações de Temer, Meireles e Serra"- batizado de "Se é Público, é para Todos”. Emblemático das manifestações do PT e suas linhas auxiliares, não? Desta vez, no entanto, marcado por indisfarçável tom provocativo de desafio e chacota. De chicana mesmo, para usar o jargão jurídico do julgamento de corruptos condenados no processo do Mensalão. Cada dia mais presente nesta fase de denúncias, prisões, julgamentos e condenações de malfe itores do conluio público e privado, envolvidos na Lava jato.
A Fundição Progresso tinha menos artistas desta vez, mas de novo ficou coalhada de sindicalistas, políticos, estudantes ligados à UNE, representantes dos chamados "movimentos sociais", em volta de Lula, "com objetivo de propor um debate sobre temas de natureza pública”, segundo seus organizadores. A estrela principal da festa, no entanto, parecia mirar em outros alvos em seu discurso "de comício". Desconsiderou velhos "companheiros e aliados" e os desqualificou: de Temer, vice de Dilma, a Meireles, seu ex-ministro do peito. Sem esquecer a imprensa, que atacou dura e irresponsavelmente, mais uma vez.
"É o ministério de Eduardo Cunha,- provocou, enquanto o público gritava:"Volta, Volta, Volta"!- Os coxinhas agora estão com vergonha, foram para a rua em busca de um risoto, e o que caiu na panela que eles batiam foi Temer". Lembrou da companheira Dilma e falou: Não estou dizendo que a Dilma não cometeu equívocos. Ela cometeu. E queremos que ela volte exatamente para corrigir os erros que nós cometemos". E terminou com uma resposta aos apelos da "turma do volta Lula".
"É cedo para pensar nas eleições presidenciais de 2018. Mas temos gente boa e nova para isso. Eu estou na idade para me aposentar”. Em seguida, sem dar sinais de depressão alguma, foi para Brasília se dedicar a "articulações" na terça-feira. Depois voou a São Paulo, para esperar o resultado da pesquisa que saiu na quarta-feira. Mais não digo, a não ser que Balzac pode estar, mais uma vez, com a razão. A conferir.
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