Encravada no sertão pernambucano, a 531 quilômetros do Recife, a pequena Cabrobó, de 32 mil habitantes, talvez seja uma das cidades mais usadas e abusadas pelo populismo petista, que dela faz gato e sapato há mais de uma década. Lá, o ex Lula garantiu, em 2009, que a transposição das águas do Rio São Francisco estaria concluída em 2012, e Dilma Rousseff reiterou as juras de um futuro redentor em gravações para as campanhas de 2010 e 2014. Na sexta-feira, sem a maquilagem dos programas eleitorais, a presidente repetiu o cenário. Foi patético.
Dilma, que na próxima quarta-feira deverá ser afastada por até 180 dias pelo Senado, com chances quase nulas de sucesso no veredito final, continua a esbravejar, dizendo-se inocente e vítima de usurpadores. Confusa na forma e no conteúdo, bate em uma mesma tecla ou fala disparates. Ou os dois. Tropeça até em ditos populares. Chegou a se atribuir a figura de lixo ao dizer que não vai para “debaixo do tapete”.
Mas, se lapsos de linguagem são perdoáveis – quanto mais no discurso de Dilma, enriquecedor do anedotário nacional -, o mesmo não se pode dizer quando se manipula o público com a ladainha de que o próximo governo vai acabar com programas sociais.
Sem o glamour conferido pelo marqueteiro João Santana, preso pela Lava-Jato, ela repete as mesmas mentiras da campanha que a reelegeram e a condenaram de vez.
Em Cabrobó, onde menos de um terço da população tem acesso a água tratada e coleta de esgoto é luxo absoluto, Dilma citou o Água para Todos, programa de desempenho modestíssimo, não só no sertão pernambucano, mas junto aos mais de 30 milhões de brasileiros que não sabem o que é uma torneira.
Especificamente no quesito programas sociais, melhor seria Dilma se calar. De seu governo saíram os maiores cortes de que se tem notícia, obrigatórios depois de uma gastança infinda com o propósito de se reeleger.
Ao passar a faca no PAC, em 2015, seu governo cortou investimentos de R$ 25,7 bilhões, R$ 6,9 bilhões no programa Minha Casa, Minha Vida, menina dos olhos da presidente. O Pronatec perdeu mais de R$ 1,4 bilhão, o Fies diminuiu de tamanho. Soma-se aí o peso de 11 milhões de desempregados que engrossam a massa da população vulnerável, a falta de tudo nos hospitais, a possibilidade de acabar o dinheiro para a Farmácia Popular e o Samu, admitida pelo ministro interino da Saúde.
A escolha de Cabrobó para mais uma cerimônia de adeus de Dilma – ela tem realizado uma ou mais por dia - definitivamente não é um acaso.
A transposição das águas do São Francisco, sempre prometida para ser entregue no ano seguinte que nunca chega, é uma obra monumental, daquelas que político algum quer que outro coloque a placa. Mesmo que com ela venham superfaturamento, desvios e ladroagens.
Planejada no melhor estilo do “rouba, mas faz”, a obra petista beira incluir o “não” na frase que imortalizou Adhemar de Barros e impulsionou Paulo Maluf.
Prevista no PPA que Lula enviou para o Congresso Nacional em 2004, a transposição começou em 2007 com soldados do Exército depois de uma enormidade de polêmicas, questões ambientais relegadas e não resolvidas. E até greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Cappio. Megalômana – bem ao gosto de Lula --, dizia que beneficiaria 12 milhões de nordestinos até 2012. Depois, até 2013, ou 2015. Agora, até o final de 2016. Orçada em R$ 4,2 bilhões, já sugou mais de R$ 8 bilhões, pagos a empreiteiras – Mendes Júnior, OAS, Galvão Engenharia - enlameadas acima do pescoço na Lava-Jato e na operação Vidas Secas da PF.
Em dezembro, Dilma inaugurou uma das bombas de Cabrobó, mas a cidade ainda não colheu benefício algum. O canal, segundo o jornal Folha de S. Paulo, já tem água, mas ninguém usa. Não existem ligações nem para consumo humano nem para irrigação.
Uns poucos bodes se desequilibram para beber a água transposta. Uma figura de linguagem apropriadíssima ao Brasil de hoje.
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