Uma boa oposição facilita o governo como o vento contrário serve a uma aeronave nas manobras. Vento de popa pode alongar e complicar além do limite da pista um pouso ou uma aterrissagem.
Desde épocas romanas, quando o império se alastrava e se fazia mais proveitoso para os dominantes e os dominados, a oposição tinha o papel de fiscalização, de crítica, impedindo excessos e erros na esbórnia de poder do governante. Os tribunos da plebe exerciam a defesa do interesse popular, eram a institucionalização do freio, enquanto o cônsul era o acelerador.
Podemos voltar a um passado recente e rever o papel do próprio Partido dos Trabalhadores como determinante para evitar excessos conservadores. Em certos momentos intolerantes ao extremo, contudo, com o passar dos anos, se constatou que a oposição serviu para melhorar a democratização do Estado republicano.
O PT, especializado no manejo do estilingue, no governo tem procurado tratar a oposição não como adversária, mas como inimiga, e relegá-la, assim, a um nível em que perdeu sua utilidade. José Dirceu e a primeira onda do governo Lula procuraram silenciar ou eliminar de várias formas o incômodo de ter uma oposição que nunca foi entendida como o freio da locomotiva do poder. Provavelmente, hoje agiriam de forma mais cautelosa.
Internamente ao partido e externamente a ele, tem havido de forma equivocada a eliminação de opositores. Até o devaneio da lei da mordaça, a restrição ao exercício do Ministério Público, e a limitação da liberdade de imprensa foram temas e objetos de ações que voltaram mais recentemente como feitiço ao feiticeiro.
O vento de popa acelera a velocidade, mas dificulta as manobras e deixa curta a pista de pouso. Aquela que faltou nos momentos em que Dilma precisava de escala para reabastecer.
Uma oposição cooptada com vantagens e partilhas escusas tem se revelado um desastre no mensalão e tem se amplificado no petrolão.
Culminou agora com Eduardo Cunha, o aliado que fugiu de controle. O facilitador passou a ser o destruidor do império do PT. Um Átila contemporâneo, o bárbaro que devastou Roma ganhando a fama de “onde pisa o seu cavalo, não nasce mais um fio de grama”.
O rei dos unos, comandando um exército tosco e cruel, “ousou” invadir em 453 d.C. os limites “sagrados de Roma” e devastar o centro do império enfraquecido. Eduardo Cunha repete a sanha dos unos no império que perdeu forças por seus erros e excessos.
Embora os méritos, ou as culpas, recaiam eternamente sobre Cunha, a razão da queda do “império” deverá se encontrar no fracasso das principais medidas adotadas por Dilma, que levaram ao vendaval econômico e social em ato.
O colapso do sistema produtivo, do motor de arrecadação, é a principal culpa de Dilma, do imperdoável. No verbete enciclopédico, a primeira presidenta será descrita como comandante de um “fracasso dos setores de produção”.
O cidadão devota ao presidente da República, e a qualquer governante, o respeito e a torcida para que atinja bons resultados. As ações acertadas beneficiam a nação, e poucos são tão obtusos de torcer para o pior de um governante, independentemente da ideologia e dos rótulos. Torcer pela derrota do próprio time?
O fracasso respinga dentro de casa, na população. Poucos gostam de sofrer.
A oposição exercida de forma democrática precisa saber discordar, mostrar-se melhor e mais capacitada para governar, não para destroçar o país.
Mas, infelizmente, temos muitos que fazem da política uma profissão e distorcem a realidade sem disfarçar a cobiça pelo poder, evidentemente pelo desfrute. Assim, a oposição exercida além do limite do interesse nacional é desastrosa.
Precisamos tanto de bons “opositores” como de bons governantes. Ambos difíceis de serem encontrados.
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