Voltamos para o nosso cotidiano das pequenas e caseiras reclamações e deixamos o país para os que são do ramo tocar o barco. E eles tocam. Aos costumes.
E os costumes são velhos. Há quantos anos eu, você e a torcida do Corinthians, convivemos com a violência – a geral e a policial? Desde quando convivemos com a precariedade na saúde e na educação? Com as péssimas estradas? Com o trânsito caótico nas grandes cidades, com os horrorosos serviços das empresas (ditas) de serviços?
Desde sempre, qualquer Mané sabe, comenta e debocha sobre relações promíscuas de agentes públicos e da política com empresas. Vez por outra vira escândalo – inho ou ão, como os de agora. E é um Deus nos acuda. Ai, ui, que horror! Nunca imaginei que era tanto!
Pois devia imaginar. Pistas não faltam desde sempre.
A propina deve ser o mote mais antigo de comédias e comediantes nacionais. (E vá fazer política, por exemplo, sem dinheiro pra ver se consegue! No mínimo, cabos eleitorais e até eleitores ficariam muito putos de não levar o seu. É ou não é?)
Qualquer brasileiro sabe que existe Caixa 2, dinheirinho "não contabilizado”. Quem não sabe que a sonegação fiscal dos grandes é quase regra geral e que, podendo, dá-se sempre um jeitinho de escapar do fisco? “Esse dinheiro vai ser roubado mesmo”, argumenta-se. E a consciência fica limpinha da silva.
Essas coisinhas todas sabidas e vividas são apenas nossa lista básica do que não há Agora vai que tenha conseguido mudar.
Por que será que não muda e, às vezes, até piora?
Porque, de verdade, de verdade mesmo, a gente vai levando com a nosso histórico conformismo, nossa também famosa síndrome de vira-lata. Tudo lá fora é melhor. Aqui não tem jeito mesmo.
O povo, essa entidade concreta e difusa que é o conjunto de nós todos, vez por outra, precisa arranjar alguém/algo para amar muito e algo/alguém para odiar mais ainda. O amado da vez é o bem em forma de gente, aquilo ou aquele que representa ideal de perfeição, modelo a ser seguido. O herói, enfim. Joaquim Barbosa, Moro.
O que seria da gente sem achar um deles de vez em quando?
O mal é para ser odiado. E concentrar o ódio nacional nuns desses maus é tudo de bom, desopila nosso fígado daqueles pequenos ódios todos que temos acumulado. Ai cabendo o vizinho barulhento, a inveja do filho do amigo que tem mais sucesso do que o nosso e outras pequenezas mais.
Por elas não vamos às ruas. Só ficamos entalados até a próxima chance de gritar um basta coletivo, por um Brasil Melhor, que vem acoplado à crença de que Agora Vai!
Se não for, vamos tocando. Nos costumes. De novo. Quem tem mais dinheiro instala alarme, bota grade, cerca, contrata segurança, põe filho em escola particular. E se conseguir um pouco mais de grana, manda os garotos estudarem em escola americana. (Aqui, esse sistema de cotas, baixou muito o nível da universidade, né não?)
A saúde não tem conserto? Fecha com um bom convênio e vai pagando preço de Sírio Libanês por serviços privados no padrão público – ruim, claro. Esses desacertos antigos do dia a dia não nos levam às ruas. Não têm jeito mesmo, não é?
A gente só vai pra rua quando o mal fica muito mauzão. Daí a gente impicha e bota fé: Agora vai!
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