Com o ganho que seu governo facilitou às classes já favorecidas, muito maior que o transferido às classes de baixo, Lula, ao que se pôde deduzir, supôs-se aceito pelo conservadorismo econômico e político. Já deu muitos sinais de ressentimento do que considera a ingratidão de uns e a deslealdade de outros, estes na “esquerda” e até integrantes do seu governo. Mas o erro de avaliação não foi do conservadorismo e dos adversários políticos, que não mudaram. Aproveitaram o que o governo Lula, como qualquer outro, lhes deu, e continuaram fiéis à sua natureza.
No emaranhado de revelações, com e sem aspas, e obscuridades que fazem a novela da Lava Jato, o recente depoimento do lobista Fernando Moura, desdizendo-se, pode ser muito mais importante do que aparenta. A começar da irritação que causou nos procuradores da Lava Jato, por desfazer algumas acusações, por exemplo, a José Dirceu, o depoimento abre caminho a novas verdades. São brechas que ou forçam ou permitem revelações até aqui evitadas por determinados depoentes.
Os procuradores entenderam de outro modo. Preferiram ameaçar Fernando Moura com a retirada do prêmio à delação, por prometer, para obtê-la, afirmações que retirou ao falar já como delator premiado. Para obter o direito ao prêmio, qualquer um diz qualquer coisa que agrade aos inquiridores.
As delações contêm inúmeras contradições que caracterizam mentira de um dos depoentes, senão dos dois, e jamais os procuradores ameaçaram com represália. Se suspenso o direito de Fernando Moura ao prêmio, caberá ao Supremo Tribunal Federal decidir qual dos seus depoimentos é mais verdadeiro. Menos para efeito do prêmio do que para os processos e julgamentos. Uma questão interessante.
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