segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

É Natal


Ninguém ganha sempre. Por mais que se acerte, haverá um momento no qual o jogo vai mudar. Disso não está livre o presidente da Câmara, o todo-poderoso deputado Eduardo Cunha, no seu interminável processo de criar dificuldades para vender facilidades.

Com uma vida assim construída, com todos os defeitos que tem, ninguém põe em dúvida que Eduardo Cunha é um craque na arte de fazer um certo tipo de política, de exercer um certo tipo de liderança, especialmente de um certo tipo de pessoas e de deputados, de defender certos tipos de ideias, de opções, de caminhos.

É um craque, um gigante na cara de pau capaz de deixar Paulo Maluf como uma criança em tempos de primeira comunhão. Cunha traz nas mãos um baralho próprio que ele domina como ninguém. Só curingas. Ele fez todas as pressões que poderiam motivar o governo a usar seu ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que esse colocasse cunhas (cunhas boas) na Operação Lava Jato e fizesse as atenções se desviarem de seu nome. Falhou.

Delcídio foi preso, veio aquela história do bilhete onde estavam relatados a origem e destino da generosa bolada dos R$ 45 milhões, que acabaram envolvendo o nome de Cunha, o do próprio Delcídio, o de Renan Calheiros e a citação do vice Michel Temer. Esse insucesso Cunha põe na conta do Palácio do Planalto. Em parte pode ser, mas ele já foi longe demais. Demorou a surgir o que ele está passando, e poderia ser muito mais, se o Regimento da Câmara fosse menos corporativo.

Cunha abriu a tramitação do processo de impeachment. Vai-se agora formar a comissão de 65 membros para se analisar o pedido, na qual o PMDB terá oito nomes. Dez sessões dessa comissão serão consumidas para a apresentação da defesa de Dilma. Transcorridas as dez primeiras sessões, virão outras cinco para que os deputados analisem as peças da defesa. Essa comissão poderá recomendar arquivamento do pedido sob sua análise ou remetê-lo ao plenário da Câmara, para votação.

Estão envolvidos interesses dos partidos que compõem a comissão especial, de deputados que já estão fazendo novenas e promessas para nela sentarem, isso tudo com Eduardo Cunha na presidência da Câmara, Dilma presidente da República, Michel Temer, o vice de terno novo para uma eventual posse (com a sua linda candidata a primeira dama) e Renan Calheiros, na presidência do Senado. Todos com canetas bem abastecidas de tinta. Parido o relatório da comissão, o processo vai a plenário.

Estão, nas ruas, as mais diversas movimentações. Prós e contra. Uma delas, a de “Um Natal sem Dilma”, certamente ficará para outro ano. Para este, Papai Noel já levou as cartinhas, e “esse presente” não estava dado como certo. Vai ser bicicleta para todos, daquelas com rodinhas na roda detrás, para ninguém cair.

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