No Planalto, desorientação absoluta. Sem saber como se portar, a presidente Dilma Rousseff fica a se comparar com o deputado Eduardo Cunha, jactando-se de não ter contas na Suíça nem ter escondido patrimônio ao fazer declaração de renda. Esquece que a fila andou, o assunto não é mais o presidente da Câmara, agora ela é que está no centro dos acontecimentos e precisa provar inocência, não adianta alardear ser honesta, isso é obrigação de toda pessoa de bem.
Todos podem ficar desempregados. Quem está melhor de vida é Wagner, depois de oito anos de governador na Bahia. Antes de sair, a Assembleia o homenageou com uma pensão vitalícia, ele já havia arranjado um belíssimo emprego no Tribunal de Justiça para a mulher, Fátima Mendonça, o que não lhes falta é dinheiro.
Mercadante também não tem problema. É amigo íntimo de Henrique Meirelles, com quem trabalhou no Banco de Boston. Aliás, foi Mercadante que apresentou Meirelles a Lula em 2002. Assim, se Dilma desmoronar, o ministro pode ser acolhido por Meirelles no grupo Friboi. Os outros ministros, porém, certamente terão problemas.
Quanto a Lula, está mais perdido do que cego em tiroteio. Sonha em liderar uma frente de governadores e já conseguiu o apoio de oito deles. Na quinta-feira, foi ao Rio pedir a Pezão que lidere este movimento, mas acontece que o governador do Estado do Rio não tem condições de liderar nem ele mesmo. É uma espécie de passageiro da agonia, que herdou de Sérgio Cabral um caos em movimento.
Além disso, a desorganização do Planalto é tamanha que nem havia recursos preparados para apresentar ao Supremo. Os três que foram apresentados foram iniciativas isoladas do PCdoB, de um jovem deputado deste partido, que se elegeu nas abas do governador Flávio Dino, e de três deputados petistas, que anunciaram que iam defender a tese de que Cunha estava impedido de aceitar pedido de impeachment, mas na hora H mudaram a argumentação e alegaram que o pedido não podia prosperar porque tinha sido uma vingança de Cunha, vejam que argumento jurídico mal-ajambrado, como se dizia antigamente.
Os três recursos são muito fracos, dois já foram detonados, só falta o do PCdoB, questionando a validade da Lei 1.079/50, que regulamentou as normas de processo e julgamento do impeachment. Para não dizer que o Planalto não planejou nada, a exceção é justamente este mandado de segurança de 70 páginas que o PT apresentou. Foi adredemente preparado, já estava pronto quando Eduardo Cunha detonou no processo.
A argumentação pode ser longa, mas é ridícula, porque a lei 1.079/50 está em vigor e já foi usada três vezes — no impeachment de Collor, logo depois na malograda tentativa que o então deputado Jaques Wagner (PT-BA) fez para afastar o presidente Itamar Franco, e também quando o deputado José Dirceu (PT-SP) pediu o impeachment do presidente FHC.
Parece que agora o objetivo verdadeiro é tumultuar o processo do impeachment, e isso logo se saberá.
Resumindo: todo este imbroglio demonstra que a desorientação realmente se tornou marca registrada da presidente Dilma e agora pode levá-la à derrocada final.
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