segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Brasil é um bêbado que bate na esposa na frente das visitas


Que o Brasil vai mal deve ser óbvio para qualquer pessoa que ousou sair de casa para comprar cigarro na esquina. Está aí mais uma crise, a pior das últimas décadas, que deverá se arrastar durante anos. Estamos caindo, rápida e progressivamente, num buraco sem fundo.

Agora que nos vemos no meio da queda, com o desempenho da economia que só não é pior do que países em guerra, sem dinheiro nem dignidade, talvez seja a hora de voltarmos para aquelas antigas promessas - entre elas a mais repetida de todas “O Brasil é o país do futuro”.

Todas as promessas - e agora isso fica bastante evidente - eram falsas. Não chegaram a durar nada dentro de nós. Quem caiu nessa acabou com a mandíbula deslocada e sem os incisivos. Mas românticos que somos, nunca conseguimos nos livrar de todo dessas ilusões tão brasileiras e trigueiras, e vivemos repetindo para nós mesmos mentalmente “agora vai!”.

Acreditamos naquilo que nunca foi motivo para merecer crédito nenhum. Deixamo-nos seduzir por bestalhões desonestos, por ideais sórdidos. E não há a menor razão para acreditarmos em qualquer outra alternativa proposta pelos mágicos em voga. Não estou me lembrado de nenhum outro povo, neste vasto continente, que tenha dado tanto crédito àquilo que era intrinsecamente abominável como nós fizemos no passado e faremos para sempre.

A quem queremos enganar?

O Brasil é um homem bêbado e descamisado que bate na esposa na frente das visitas. O homem não consegue se manter no emprego. Ele é violento, pega dinheiro emprestado e nunca devolve. E acumula aquela barriga inchada de obstrução intestinal. Não temos motivo algum para acreditar nesse homem bêbado e descamisado que bate na gente. E, no entanto, sempre damos um novo voto de confiança a ele.

O que me intriga é como podemos acreditar, depois de tudo, nesse homem que nos deixou hematomas pelo corpo inteiro, e como chegamos a nos compadecer quando ele apareceu com flores e um pedido de desculpa, dizendo que dessa vez seria tudo diferente?

O brasileiro médio, coitado, tem a devoção de uma mãe de presidiário que visita o filho em cidade distante, a cada quinze dias, levando revistinhas Coquetel e bolo de laranja. Por que nos sujeitamos a uma vocação tão baldada e cansativa? De onde vem essa devoção do brasileiro pelo país?

Confesso que sempre sinto uma espécie de horror quando chego em casa e encontro esse homem descamisado sentado no meu sofá, tirando sujeira do umbigo enquanto derruba cerveja no estofado. No fundo eu sei - todos nós sabemos que não demorará muito até ele encher a cara e apanharmos outra vez. E sabemos que não prestaremos queixa na delegacia no dia em que isso acontecer. Pior, nos sentiremos ofendidíssimos quando entreouvirmos alguém falando mal dele.

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