domingo, 4 de outubro de 2015

Vacas magras

Adoro provérbios que, no fundo, são sabedorias que os antigos lançavam ainda que fossem iletrados. Mesmo porque para ser sábio, não precisa frequentar escolas. Basta a conciliação da curiosidade, observação e tempo para experimentar os mistérios da natureza. Não é difícil, pois, constatar que estamos em “tempos de vacas magras”.


Ao imaginar essa imagem, me vem à tona o sertanejo com o pasto esturricado, seu gado raquítico, as tetas vazias de suas vacas, o sol incandescente, a falta de chuva e a sensação de que a escassez e a falta de perspectivas ameaçam o futuro e até a sobrevivência da família. Como se o sofrimento fosse eterno. Ao mesmo tempo, ainda que a angústia exploda seu peito, algo o faz sair a cada dia, pois a vida continua, e se põe a recolher o corpo do animal esquálido, sabe que tem que dividir o pouco com muitos. Alimentados pela fé e pela visão dos ipês, que, solitários, se doam em flores em meio a tanto mato seco e alegram o olhar do vaqueiro ao doar beleza e esperança, como um aviso divino de que as chuvas logo virão, fazendo ressurgir a vida em meio a verdejantes pastos. Gerando um novo rebanho, gordo e saudável e o leite espumante que sustenta a vida.

Pois assim é a história que nunca é aprendida. A civilização é feita de ondas e do vai e vem de abundância e escassez, guerra e paz, egoísmo e solidariedade. Nos bons momentos, nos esbaldamos e desperdiçamos, embriagados pela vaidade e sensação de poder do vício consumista e ilusório. Na falta, nos desesperamos, perdemos a fé, vai cada um por si, projetando o fim do mundo e o salve-se quem puder.

Colegas de trabalho desconfiam das demissões, sabotam, sentem-se ameaçados, fofocam. Famílias se arvoram, desentendem, se cobram. Reclamações são ouvidas à boca pequena e num sussurro geral. O ambiente carrega, devedores e cobradores se esgrimam na falta de um consenso. Mau humor, lágrimas, promessas se avolumam. Falsos profetas, líderes fabricados, poderes desconstituídos, dão a dimensão da tal “crise”.

Mas, afinal, qual a saída? Como a Europa se reconstruiu duas vezes após o apocalipse das guerras mundiais? Como nosso país sobreviveu aos terremotos dos péssimos políticos que tentam nos destruir, os Collors e Sarneys da vida? Basta buscar a sabedoria dos antigos: “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe”!

A vida exige que a experimentemos. Insisto que para tal é fundamental que a cada dia façamos novas tentativas. Estas resultam em acertos e erros e aprender sempre é que me fará melhor e mais forte para transpor esta época de vacas magras e as que vierem por toda nossa vida. Aprendendo a simbologia dos ipês, que nos ensina que a vida sempre ressurge. Mudar, parar de reclamar e agir.

Gastou muito na fase do país marqueteiro, “quinta economia do mundo”, comprou o que não precisava, se endividou, estourou o cartão quando o ex-presidente pediu que gastássemos como se não houvesse o amanhã? Está na hora de voltar a ser formiga e não cigarra. Enquanto isso, a cada dia bata em uma porta. Pois, se houver fé e perseverança, a mais sagrada se abrirá. Ajude a quem puder, dê a mão a quem está do seu lado, faça a sua parte, pois “depois da tempestade, vem a bonança” e jamais deslumbre novamente. Os vencedores aprendem muito mais nas derrotas!

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