Lembro-me muito bem da fisionomia de alguns militares, vestidos em trajes civis, infiltrados e dispostos a criar confusão. Mas a ordem do comando geral do movimento, para que não houvesse reação às provocações, foi cumprida à risca. E o que se viu foi um banho de cidadania e civismo. Oradores se revezando, lágrimas rolando, uma energia e vibração no ar de tamanha intensidade, que os generais não tinham mais como evitar a retomada do poder pelo povo e para o povo.
O voto, que deveria estar condicionado ao cumprimento dos compromissos assumidos em troca dessa “moeda”, virou cartão de crédito no bolso do eleito. É nesse ponto que a democracia perde o sentido de bem universal e se transforma em instrumento de poder nas mãos de grupos de assalto.
De Collor a Dilma, o eleitor votou naqueles que apresentaram (?) as melhores propostas. Então, está claro, a escolha foi pelo plano de governo que eles divulgaram em campanha. Por essa perspectiva — a correta, por sinal —, nem precisaria ser necessário flagrar governos chafurdando na lama para legitimar o impeachment. Se a presidente Dilma perder o mandato, que seja por suas pedaladas eleitorais. Do contrário, é trocar seis por meia dúzia.
A sociedade brasileira exige uma democracia de verdade, aquela que saiu do peito do jurista Sobral Pinto, no alto do palanque das Diretas Já: “Todo o poder emana do povo...”. Se governo ou oposição não entenderem esse sentimento, vão continuar brigando pelo poder, sem o respaldo das ruas.
Celso Raeder
Nenhum comentário:
Postar um comentário