Pode parecer pouca coisa agora, considerando a confusão decorrente na política e os prejuízos inevitáveis para a economia, mas o tratamento quimioterápico intensivo que começou na investigação do mensalão e prossegue no caso Petrobras está, de uma forma ou de outra, aos poucos, mostrando que a velha definição de Bezerra da Silva para o "otário" – sujeito que tem só dois direitos, o de tomar tapa e o de não dizer nada – não vale mais para o Brasil.
O procedimento em curso tem impacto profundo e abrangente. Políticos importantes foram condenados. O ministro mais poderoso de um governo popular foi preso uma, duas vezes, sendo que na última nem se sentiu mais à vontade para levantar teatralmente o braço e se dizer vítima de perseguição política. Grandes empreiteiros estão na cadeia. Um ex-presidente da República teve carros de luxo apreendidos. Envolvidos nos esquemas foram obrigados a devolver uma fortuna que gira em torno de R$ 1 bilhão.
É evidente que tudo isso não resultará no fim da corrupção, dos desmandos, dos desvios e dos superfaturamentos. Não existe solução definitiva para esse tipo de assunto. Tampouco indica que, das cinzas produzidas pelas investigações, surgirá uma classe política mais honrada.
Significa apenas que o país evoluiu e que as instituições funcionam com independência, não porque o governo atual permite, como martela o PT na sua difícil tentativa de se defender, mas pelo fato de que, 30 anos após o fim da ditadura, estão muito mais sólidas. A impunidade deixou de ser uma certeza. Corruptos e corruptores agora, ao menos, têm medo.
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