quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O governo Dilma está com jeito de que chegou ao fim

O governo balança, balança, e pode não chegar ao fim do ano. Só ganhará uma sobrevida com a ajuda da oposição.

Em síntese, foi isso o que disse, sem disfarçar a apreensão, o vice-presidente da República e coordenador político do governo Michel Temer (PMDB-SP).

Depois de um dia de reuniões com representantes de todos os partidos que supostamente apoiam o governo, e ministros chamados às pressas por ele,


Temer procurou os jornalistas e ditou:

- A declaração que eu quero fazer é aos vários setores da sociedade. Particularmente aos partidos políticos, aos companheiros do Congresso. (...) Nós

estamos pleiteando exata e precisamente que todos se dediquem a resolver o problema do país. Não vamos ignorar que a situação é razoavelmente grave.

Não tenho dúvida de que é grave. É grave porque há uma crise política se ensaiando, há uma crise econômica que precisa ser ajustada. Faço este apelo.

- Vocês sabem que ao longo do tempo tivemos sucesso na articulação política. Mas hoje, quando se inaugura o segundo semestre, agrava-se uma possível

crise. Precisamos evitar isso. Em nome do Brasil, do empresariado, dos trabalhadores, é preciso que alguém possa, tenha capacidade de reunificar a todos,

de unir a todos, de fazer esse apelo. Tomo a liberdade de fazer esse pedido porque, caso contrário, poderemos entrar numa crise desagradável. É preciso

pensar no país acima dos partidos, acima do governo.

O que deu em Temer? Em Temer, não, no governo? Porque ele falou pelo governo. Teve o cuidado, antes de falar, de trocar ideias a respeito com a

presidente Dilma. Ela o autorizou a falar.

Deu que Temer jogou a toalha como coordenador político do governo. Deu-se conta que não funcionará a política de distribuir cargos e sinecuras em troca

de votos no Congresso.

É a única política que o governo imaginou dispor para manter unida sua base de sustentação. Base tão ampla era uma miragem. Sempre foi desde a

reabertura do Congresso em fevereiro último.

Esfarelou-se. E por uma razão que costuma explicar o abandono de governos por aliados de ocasião: a impopularidade dos governos. Políticos e partidos

são sensíveis ao ronco das ruas.

A aprovação do governo só faz cair. Era de 7,7% na mais recente pesquisa CNI/MDA. Números frescos à disposição do governo mostram que o

percentual de aprovação caiu mais.

Pesquisa aplicada na semana passada apenas na capital paulista pelo Instituto Paraná de Pesquisas registrou que a desaprovação do governo Dilma bateu na

casa dos 90%.

Dito de outra maneira: 9 de cada 10 paulistanos rejeitam Dilma.

A declaração feita por Temer ganhou cores de desespero quando ele disse a certa altura:

- (...) é preciso que alguém possa, tenha capacidade de reunificar a todos, de unir a todos, de fazer esse apelo.

Que alguém é esse?

Num regime presidencialista, esse alguém só poderia ser o presidente da República. Mas porque a presidente deixou para Temer a tarefa de fazer o apelo?

Porque não tem mais condições de fazê-lo. Perdeu a credibilidade. Perdeu a confiança dos seus governados. Perdeu a autoridade política. Não se arrisca a

falar à Nação com medo de ser hostilizada.

Se seu apego ao poder não fosse demasiado, pediria as contas.

Talvez seja cruel afirmar que Temer, ao dizer o que disse e da maneira como disse, ofereceu-se para ocupar um espaço que está vago. Mas foi isso o que

aconteceu, mesmo contra sua vontade.

O vice-presidente no exercício improvisado e ocasional da presidência foi secundado no seu apelo pelos dois ministros mais importantes do governo –

Aloizio Mercadante, da Casa Civil, e Joaquim Levy, da Fazenda. Sintomático.

Pela primeira vez, Levy arquivou seu discurso geralmente cuidadoso para dizer que é grave a crise fiscal que o país atravessa. Alertou para o risco do ajuste

não dar certo.

Mercadante admitiu que o governo errou – sem apontar quando e como. Seria pedir demais a ele, convenhamos.

Para espanto da oposição, elogiou-a. E por fim disse que somente um acordo suprapartidário será capaz de salvar o país do pior.

Lula, Dilma e o PT sempre trataram a oposição com desprezo. Há 12 anos que a espezinham. Agora pedem arrego. De fato, é isso que pedem.

A resposta dos partidos a Temer, Levy e Mercadante começou a ser dada pouco antes da meia noite de ontem mesmo.

PDT e PTB, que juntos têm 44 deputados federais e dois ministros de Estado, anunciaram seu rompimento com o governo.

E a Câmara dos Deputados estava pronta para aprovar novos projetos que poderão comprometer de vez o ajuste fiscal.

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