"O choque de Poderes independentes deflagra um processo de aperfeiçoamento em busca das melhores práticas republicanas"
A presidente Dilma Rousseff exibe enorme disposição em defesa de seu mandato. Energizada por uma bem-sucedida dieta, que, como sabemos, é inequívoca demonstração de força de vontade, declarou em discurso sua legitimidade pelas urnas, amparada pelo voto popular. O ex-presidente FHC reafirmou, a propósito, que considera Dilma uma pessoa honrada, atribuindo malfeitos naturalmente a seus "tratores" partidários, que atuariam nos "limites da irresponsabilidade". Haveria, segundo ele, lobos e cordeiros na selva política. E o importante é se precaver contra os lobos em pele de cordeiro. Como FHC reclama de Lula por ter dividido a sociedade entre "nós", os do bem, e "eles", os do mal, devemos supor que admita ter conhecido lobos também no PSDB. A emenda da reeleição e o projeto "20 anos de poder" podem ter sido obras desses lobos, que perderam uma suja batalha política ante espécimes mais vorazes do PT.
Por tudo isso, pouco me interessa a fulanização da política brasileira. É evidente que há lobos e cordeiros em todos os partidos, embora o aparelhamento do Estado pela permanência no poder indique que uma alcateia possa ter assumido o comando do PT. O que falta em todos os partidos são os estadistas. Razão pela qual a dinâmica dos eventos atuais é dirigida pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e por um novo Judiciário que se afirma como Poder independente. O que fariam os estadistas no Congresso? Estariam elaborando simultaneamente uma profunda reforma das degeneradas práticas político-eleitorais e outra profunda mudança do regime fiscal em torno de um pacto federativo. É perturbador o ranger das engrenagens da governabilidade quando não estão lubrificadas pelo dinheiro sujo dos propinodutos bloqueados pela Justiça.
Estamos construindo as instituições de uma Grande Sociedade Aberta. O choque de Poderes independentes deflagra um processo de purificação em busca das melhores práticas, desde que os atores atuem dentro de seus limites constitucionais. O ex-presidente Collor tinha também a legitimidade pelas urnas. Mas renunciou sitiado pelo Congresso em um processo de impeachment, pois a legalidade das práticas políticas é também uma exigência do regime democrático. Boa sorte, presidente... mas, acima de tudo, viva a República.
Paulo Guedes
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