segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Aproxima-se a curva do caminho
Se de um cidadão dizemos que ele tem quase toda honra, estaremos dizendo ser um desonrado. Se de um país falamos dispor de quase toda liberdade, desnecessário concluir tratar-se de uma ditadura. Assim, se de um governo referimos estar perto de cumprir suas promessas, na verdade aceitamos que fracassou.
O governo da presidente Dilma fica devendo tirar o Brasil da miséria, pois é a miséria que gradativamente o envolve. Importa menos se a propaganda oficial divulga que milhões ingressaram na classe média. Na verdade, a classe média é que recuou até eles. Da mesma forma, não dá para aceitar a fantasia de multidões disporem de carteira de trabalho, quando se constata estarem recebendo o salário mínimo. Outra ilusão é verificar que essa merreca, ao contrário do que estabelece a Constituição, não basta para o trabalhador e sua família enfrentarem despesas de habitação, alimentação, vestuário, transporte, educação, saúde e até lazer.
Em suma, se as elites vão bem, o povo continua muito mal. Basta atentar para a multiplicação de favelas nas grandes e nas pequenas cidades. Nelas, não se aplicam as regras e as leis pretensamente válidas para a nação. Como o número dos que habitam esses conglomerados logo irá ultrapassar o das comunidades à sua volta, invertendo a equação, a conclusão será de que eles, e não os outros, constituem a próxima e verdadeira estrutura social objeto de todo e qualquer governo. Numa palavra, não se trata de ampliar programas como “bolsa família” e “minha casa, minha vida”, a título de esmola, mas de ter presente serem seus integrantes os próximos determinantes da ação do governo. Em pouco tempo serão o próprio, isto é, o governo. Hoje, estão no poder. Amanhã, serão o poder.
Essa transição é traumática. E cruel. Numa primeira etapa leva os lideres da maioria reprimida à tentação de alçar-se à minoria. O Lula surge como o melhor exemplo dessa metamorfose. Basta ver como vive, como mora e como mudou. Um milhão de Lulas, no entanto, mudarão a perspectiva, bem como as regras do jogo ainda vigente.
Não adianta, pelo advento desse processo inexorável, jogar a culpa das contradições no governo Dilma. Nem nela, pessoalmente, por maior incompetência que revele na compreensão do fenômeno social.
Dirão os ingênuos que sempre foi assim e nunca o processo se inverteu: as massas jamais conquistaram o controle da situação, ainda que aqui e ali se tivessem rebelado, balançando as estruturas dispostas acima delas. Só que agora é diferente.
Os excluídos, cada vez mais e melhor informados, tomam pacífica consciência da exclusão. Essa a grande consequência da revolução tecnológica. Não mais através da mídia comprometida e amestrada, mas diretamente, primeiro agrupadas em guetos, logo ocupando maiores espaços, as massas assumirão o controle do processo. Quanto mais demissões, fome, miséria e doença, mais se aproximará a curva do caminho.
Carlos Chagas
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