Os jornais desse fim de semana trouxeram a notícia de que “centenas de
mulheres de topless participaram nesse sábado de uma marcha em Waterloo,
no Estado de Ontário, no Canadá, para protestar pela atitude da polícia
local que reprimiu três alegres irmãs que, sem camisa e sutiã,
pedalavam suas bicicletas pelas ruas do lugar.” Estavam com calor e lá o
topless é permitido por lei. A polícia agiu com abuso por
repreendê-las. Com cartazes, todas as manifestantes, de topless,
alertavam: “eles são peitos, não são bombas”. Fontes ouvidas afirmaram
que essa não era a dúvida. Sabia-se serem peitos, o que ficou
definitivamente esclarecido para quem diferentemente pensasse.
Senti uma inveja absurda dos canadenses. Não pela fantasia da cena
composta de centenas de mulheres de topless, pedalando alegres em
protesto, mas por viverem num país onde um abuso da polícia, de tão
frágil ordem, viria a ser objeto de densa manifestação popular. Imaginem
essa mesma circunstância migrada para o Brasil, que ostenta sem solução
um dos maiores quadros de insegurança pública, a par da ineficiência de
sua força policial. Andaríamos pelados, no civil e no religioso.
Apenas para ilustrar o que é a vida num país onde a ordem, o direito, a
justiça e a liberdade são patrimônios intocáveis e trazendo para o
Brasil essa avaliação para dimensionarmos o desconforto que vivemos,
brasileiros, com a instabilidade institucional que todos os dias nos
ameaça, desconstrói nosso trabalho e nossas esperanças. O tempo passa e
há 500 dias que vivemos do que será a operação Lava-jato (graças a Deus,
produzindo bons e elogiáveis resultados), que há meses temos medidas
econômicas absolutamente necessárias, ameaçadas pelo temperamento e
vontade particular de um tipo como o deputado Eduardo Cunha, presidente
da Câmara Federal. Acusado de ter recebido vultosa propina de
empreiteiras hoje investigadas pela citada operação, esse senhor se opõe
às investigações não com os seus argumentos de defesa, não com a sua
história de parlamentar, mas com o poder que tem de obstruir a tudo para
que todos nós, o país, sejamos dele dependentes ou prejudicados.
Na mesma postura vemos o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros,
também investigado, que se contrapõe ao Ministério Público que o acusou
das mesmas práticas de seu colega (colega em toda extensão da palavra)
presidente, de haver sido beneficiado pela propina, ambos para não
dificultarem o andamento de obras públicas e seus superfaturamentos.
Ninguém duvidou, ninguém veio em socorro deles nem tampouco de outros
acusados no Senado e na Câmara.
O senador Fernando Collor, cuja ficha revela práticas igualmente
capituladas no Código Penal, surpreendido com uma frota milionária de
carros importados na garagem da Dinda, igualmente protestou contra o MPF
e o Procurador Geral da República. Collor também foi para o confronto
pessoal.
Nenhum deles se defendeu com argumentos e provas. Vociferaram,
ameaçaram, vão endurecer o controle da Câmara e do Senado. Ameaçam
obstruir a recondução do procurador Rodrigo Janot ao comando da PGR
porque esse aceitou denunciá-los. Nós só assistimos. O que somos?Luiz Tito
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