“Mal chegamos a 60% da cifra planejada do negócio”, explica Sharline Oliveira, dona de um salão de manicure situado no shopping. Durante a meia hora de duração da entrevista, suas seis funcionárias aguardam sentadas a chegada de clientes que, prevê João, empregado de uma franquia de fast-food, dificilmente aparecerão. “Como as pessoas vão vir consumir se toda Itaboraí perdeu o emprego?”, argumenta.
Para um centro urbano de apenas 200.000 pessoas, que não passava de mais uma cidade-dormitório do Rio, o investimento de 265 milhões de reais destinado a erguer o shopping center foi notável. Mas, até que tudo desmoronasse, os ambiciosos planos petroleiros que o Governo brasileiro e sua empresa de ponta de lança, a estatal Petrobras, tinham para a localidade convidavam a ser otimistas. Muitos pensaram que a história de Itaboraí daria um giro em 2006, quando em decorrência do descobrimento das maiores reservas petrolíferas da história do Brasil (o chamado pré-sal, mar adentro), o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou no município “o maior investimento feito no país”: o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, conhecido em geral pelos brasileiros por sua sigla, Comperj.
O projeto era extraordinariamente ambicioso em seu impacto socioeconômico. Uma unidade de tratamento de gás natural, duas refinarias e uma zona de processamento petroquímico deveriam ser erguidas em uma área de 45 quilômetros quadrados, e os empregos gerados direta ou indiretamente superariam os 200.000. “Não conheço na América Latina um investimento da magnitude do que estamos lançando aqui”, disse Lula em 2010, ao inaugurar as obras com um discurso marcadamente nacionalista. “O século XXI é o século do Brasil. Já perdemos algumas oportunidades, mas não perderemos esta”, concluiu o ex-sindicalista, ao lado de sua mão direita à época, Dilma Rousseff, que liderou o Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010, antes de se tornar presidenta do país.
Ao evocar esse episódio, Helil Cardozo, prefeito de Itaboraí, sente uma irrefreável indignação. “Riram da população e dos investidores que acreditaram nessas palavras. Disseram que iríamos ser a segunda renda mais alta do Estado do Rio de Janeiro. Foi uma piada de mau gosto”, recorda esse prefeito pelo PMDB, paradoxalmente o maior aliado do Governo.
Quase uma década depois de seu anúncio, o Comperj é talvez a melhor ilustração da corrupção, das ineficiências e do intervencionismo político que gangrenam a Petrobras, a maior empresa do Brasil, guardiã das reservas de petróleo e até pouco tempo motivo de orgulho nacional. Como ponto forte de um longo decálogo de más práticas sobressai a redução drástica e súbita do Comperj original – inicialmente, a ideia era criar um polo petroquímico, mas agora tudo se resumirá a uma refinaria com capacidade diária para 165.000 barris –, sem que essa degradação tenha evitado, porém, que o custo orçamentário triplicasse, até os atuais 70 bilhões de reais. Uma cifra colossal à qual terão de ser adicionados alguns milhões mais para concluir as obras, hoje paradas, com 85% terminado.
Longe de se transformar no novo eldorado do Brasil moderno, o fracasso do projeto provocou “uma situação de caos no município”, explica o prefeito. Um cenário que é consequência da chegada de mais de 30.000 trabalhadores, com suas famílias, em busca de oportunidades, e que motivou um aumento da demanda de serviços e fez disparar os gastos públicos, hoje insustentáveis.A corrupção na Petrobras, unida à queda do preço do petróleo e ao custo ambiental, dinamitaram o sonho de prosperidade de milhões de brasileiros
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