terça-feira, 9 de junho de 2015

#eu quero luz

Cultura é tudo o que acontece ao nosso redor. E não tem nada a ver com política cultural. A reflexão é da chilena Maria Paulina Sotto Labbé, 50 anos, que diz-se dedicada “à investigação cultural”.

Simplificando o pensamento e a definição de Maria Paulina, podemos refletir que aqui, agora, estamos cercados da cultura de descrença e da raiva, que gera desânimo e infelicidade para todo lado.

Ah, não tem jeito mesmo!

Volta o sonho de mudar de país, que embalou e levou tantos nos anos 90. De novo, quem pode vai. Quem não pode sonha ir e inveja os que vão. Lá é muito melhor do que está aqui. Particularmente se esse lá for os Estados Unidos, que saíram da crise e voltam a vender o velho sonho de fazer a América. (Longe, principalmente do PT. O demo do momento).

A maioria que fica emburra. Revoltada e gritona, não aceita as diferenças nem na ficção das novelas, da publicidade. (Aliás, a chilena lembra que a publicidade é quem mais modela os gostos culturais. Ou seja, os reacionários têm boa mira).

Ta ruim na rua, em casa não quero ver nem saber de nada que me incomode. E dá-lhe nariz torcido para tudo – da administração Dilma aos homos do Boticário. Cruzes!

Ai cabendo muitas raivas (in)contidas – da perda do sagrado direito de ter uma empregada doméstica a custo baratinho ao medo da violência crescente. Da roubalheira à inflação. Tudo atribuído ao governo, qualquer que fosse ele.

Como não confiamos nem admiramos os que respondem pelos comandos da sociedade também desprezamos, desdenhamos e, principalmente, abominamos seus ditos e desditos. E tome cultura de resmungos e lamentos de tudo e por tudo. Até da santa democracia – a permissiva, a que “possibilita” tantas afrontas à família, à religião, à moral e aos bons (?) costumes.

Aff! Há uma multidão cobrando proibições. Afinal, proibir, determinar na lei ou na marra “assim, isso não pode” é muito mais fácil do que encarar, debater, confrontar para ganhar ou para perder. Ou, até sem aceitar, conviver com o que não se aprova.

É a cultura feia do momento argh, aflorado neste 2015. De lascar! Tem viés autoritário, quer conter e negar o que, sorry, já mudou. É reacionária e tem cara de passado. Não oferece futuro. Só chafurda no ruim. (E eu não estou falando de política, mas de costumes, comportamentos.)

Ai de nós se não reagirmos.

Mas vem a chilena singela e vai dizendo que a cultura é misteriosa e que nunca vamos conseguir decifrá-la completamente. Lembra, em entrevista curta, que o direito à beleza e à cultura (essas coisas fluidas que nos cercam) não foi incorporado à Declaração Universal de Direitos Humanos. O que foi corrigido, em 1972, na Convenção dos Direitos Sociais e Culturais.

Conta que no Chile, pós-ditadura, foram criados “espaços públicos para agregar jovens”, pois pensavam que a insegurança e a desconfiança, consequências da ditadura, fariam com que os jovens chilenos nunca mais voltassem a conversar com desconhecidos e assim trocar ideias, anseios.

“Os espaços públicos servem para isso. Eles facilitaram que movimentos contraculturais se fortalecessem”, contou e reforçou o conceito da força criativa.

Quem sabe saímos do escuro para espaços de criatividade, para reinventar bonito o que anda feio. E, apesar dos nossos pesares, da raiva, da frustração e do medo, criar. Feito os livrinhos da moda, colorir e desenhar saídas. E sair por elas. Com direito à beleza.

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