quinta-feira, 9 de abril de 2015

Quando a mediocridade desenha o futuro

A mediocridade extermina planejamentos, mata oportunidades e elimina a esperança. Como vírus, a mediocridade se expande e multiplica-se sem oposição aparente


A vida é infinitamente mais estranha que qualquer coisa possível de ser inventada pela mente humana. Mesmo munido de doses extras de audácia e quantidades excessivas de autoconfiança, ninguém conseguiria conceber as coisas que fazem parte do cotidiano da existência
.
Se fosse possível ver através dos tetos dos edifícios e observar de cima, em primeira mão, as coisas estranhas, coincidências inacreditáveis, e as cadeias improváveis de eventos acontecendo, como são gerados ou se reproduzem, toda a ficção pareceria noticia de ontem. Com sabor de pão dormido.

E, apesar da riqueza dramática da vida, as noticias que chegam são, em regra, desinteressantes. Padecem do mistério, de criatividade, de profundidade, de vida, enfim. Carecem de justificativas e motivos complexos ou talvez pelo menos de boas razoes.

As explicações são somente desculpas. Supostos pensamentos travestidos de fantasias rotas e delírios ilusórios que, na visão de quem os concebe, deveriam tornar justificável o que não é sequer aceitável ou palatável. E sempre empacotadas em pensamentos ininteligíveis descritos em punhados de frases desconexas contendo pensamentos duvidosos.

Desde que começou a era da mediocridade, não existe grande complexidade nos fatos. São apenas resultado de atividades sempre antiéticas, frequentemente imorais, e muitas vezes ilegais. Transgressões, somente. Simples malfeitos, delitos ou crimes que dispensam explicações sociológicas.

Mas se causa preocupação o passado, é no futuro que reside o problema. Enquanto permanecemos focados no desfile eterno de explicações medíocres para atos inaceitáveis, o futuro vai virando presente sem que a gente tenha cuidado, ou melhor, a preocupação, de prepara-lo.

Enquanto isso se apela por paciência. Mesmo que paciência, a esta altura, signifique apenas a tolerância com o sofrimento causado por equívocos e desvios passados, sem a garantia, confiança ou crença de que este sofrimento semeie dias melhoras.

A mediocridade extermina planejamentos, mata oportunidades e elimina a esperança. Como vírus, a mediocridade se expande e multiplica-se sem oposição aparente.

E o futuro, silencioso, vai chegando. E assiste a oportunidades vazando por entre os dedos, sem plano, projeto, ou objetivo. Testemunha a destruição de maneira desnecessária, mas mesmo assim aparentemente inevitável, do lugar que será habitado pelas gerações por vir.

Elton Simões

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