Ao comprar briga sem ter força para tanto, os petistas acabaram ficando isolados
Nos últimos dias, o PT tenta esboçar uma reação para sair da defensiva e enfrentar a maior crise política de sua história, comparável apenas à do mensalão. Na semana passada, em um encontro da Executiva Nacional do partido com os 27 diretórios estaduais da legenda e a presença do ex-presidente Lula, foi defendida uma espécie de retorno às origens do partido.
Entre comportamentos a serem adotados mencionou-se a necessidade de uma atuação militante mais forte, em vez de restrita a períodos eleitorais, reaproximação com movimentos sociais e partidos de esquerda, defesa da ampliação dos direitos dos trabalhadores, reforma política, democratização da mídia e reforma tributária mediante taxação de grandes fortunas.
Embora o discurso da direção petista possa ser interpretado como uma estratégia para acenar à esquerda da sigla num quadro de fragilidade política, o momento é inadequado.
A tentativa de reconstruir a forma de fazer política do PT dos anos 80 e 90 desconsidera a atual conjuntura. Diferentemente da década passada, o partido não tem a mesma capacidade de mobilização nem de ascendência sobre os movimentos sociais e as demais siglas de esquerda. Isso decorre do afastamento natural do PT de sua base original, por conta do exercício do poder.
Outro ponto a ser destacado é que a base eleitoral do partido não é mais a mesma. Desde 2006, o voto petista vem majoritariamente de segmentos com menor renda, baixa escolaridade e que habitam nos pequenos municípios. Ou seja, ao contrário dos anos 80 e 90, o partido não desperta mais a simpatia do eleitorado de classe média dos grandes centros urbanos, que saía voluntariamente às ruas para defender os ideais do partido.
Outro equívoco é argumentar que a rejeição que passou a sofrer é uma reação limitada à chamada “direita” ou às “elites”. Basta olhar alguns números da última pesquisa CNI/Ibope para constatar que o governo Dilma também é mal avaliado entre os eleitores que votaram no PT na última eleição presidencial.
Segundo o Ibope, no Nordeste, região que vota majoritariamente no PT desde 2006, o governo é aprovado por apenas 18% dos eleitores, sendo rejeitado por 55%. Desse percentual, 41% classificam a gestão Dilma como “péssima”. Nos municípios de até 20 mil habitantes, a aprovação do governo soma 13%, enquanto a rejeição totaliza 64%.
Considerando a variável renda no segmento de até 1 salário mínimo, a rejeição é de 60% (apenas 17% aprovam o governo nessa faixa salarial). Fenômeno similar ocorre entre os eleitores com renda entre 1 e 2 salários, na qual o governo é rejeitado por 63% dos entrevistados e aprovado por apenas 13%.
O abalo que Dilma sofreu entre os eleitores que votaram no PT e aprovavam as gestões do partido pode ser explicado pelos efeitos da crise econômica, sobretudo por causa do aumento dos preços dos alimentos que vão à mesa desse público.
Como se trata de um eleitorado sem afinidade ideológica com o PT, já que votava no partido devido à conjuntura econômica favorável, é pouco provável que saiam às ruas para defender o governo.
Ao contrário das eleições de 2002, 2006 e 2010, quando o PT saiu das urnas com uma vitória superior a 60% dos votos, agora não há força política suficiente para a legenda apostar numa estratégia de confronto.
Nesse cenário, qual seria o caminho mais adequado? A busca de moderação, por meio de um diálogo maior com o PMDB, que é o maior e mais importante partido de centro do Congresso. É o que a presidente pôs em prática esta semana, com a entrega da coordenação política ao vice-presidente Michel Temer.
Ao comprar briga sem ter força para tanto, os petistas acabaram ficando isolados. Prova disso é que a presidente Dilma Rousseff é aprovada por apenas 12% dos eleitores e a perda de identificação partidária no PT é crescente. Esse percentual, que já atingiu 35% do eleitorado brasileiro, hoje contabiliza apenas 14%. A conjuntura é tão adversa que nem mesmo o ex-presidente Lula é visto como capaz de liderar uma reação.
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