Num buraco da pedra refugiou-se
um pombo, só, sem companhia alguma.
A tarde, até então tranquila e doce,
vestiu-se de relâmpagos e bruma,
e a chuva esvoaçou, como se fosse
feita de voo mas também de pluma,
e na explosão que a trovoada trouxe
desfizeram-se as nuvens, uma a uma,
e caíram nas calhas feitas águas
e a água em saudade se mudou de bica...
Água da infância nos lavou a cara...
E como o estouro de uma grande mágoa
que atrás dos olhos quer ficar, não fica,
vi que o pombo nas águas revoara.
E enfrentava a tormenta cara a cara.
Odylo Costa Filho (1914-1979)
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