quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Minha mãe já sabia


Em seu discurso de posse, a presidente reeleita Dilma Rousseff anunciou o lema de seu governo, Brasil, pátria educadora: "Isso significa universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis". O que causa admiração não é descobrir que só agora, em seu segundo mandato, a educação aparece como prioridade – mesmo porque o tema nunca interessou, de verdade, a nenhum político, nem a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, nem, muito menos, ao tucano Fernando Henrique Cardoso. Surpreendente é a frase explicativa.

"Universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis" aponta para uma dessas duas interpretações possíveis: ou já atingimos um patamar de excelência na educação e o que precisamos é apenas garantir o ingresso do conjunto dos cidadãos nas escolas; ou devemos assegurar a admissão de todos num sistema que nos próximos quatro anos apontará para um grau de aprimoramento digno de Primeiro Mundo. Como o Brasil ocupa as últimas posições em testes de avaliação internacional de ensino – por exemplo: o Relatório de Capital Humano, formulado pelo Fórum Econômico Mundial nos coloca na em 88º lugar entre 122 países –, e como reputamos que a presidenta Dilma Rousseff é uma pessoa íntegra, podemos, sem sombra de dúvida, descartar a primeira hipótese de interpretação da frase explicativa.

Então, ainda que tarde, e ainda que descrentes, devemos analisar a frase de acordo com a segunda hipótese: iremos assistir, nos próximos 48 meses, um esforço para sanear as bases da educação brasileira, assentadas em um pântano de omissão, incompetência e desmando, para transformá-la em um oásis de eficiência, disseminação de conhecimento e preparação para a vida, que é o que todos ansiamos. Verifiquemos, pois, como a presidenta Dilma está se organizando para enfrentar esse desafio.

Não há mágica para resolver o gravíssimo problema da educação nacional, herança da mentalidade colonizadora, gananciosa, egoísta e predatória, que sobrevive em nossa elite individualista e burra. O Brasil dedica cerca de 5,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação, percentual bem próximo daquele destinado pelos países ricos que contam com ensino de qualidade. O problema, então, não reside necessariamente no montante do dinheiro aplicado nessa área, mas em como ele é gerido.

O Ministério da Educação, encarregado de levar à frente o projeto, foi entregue ao ex-governador Cid Gomes, que divide com o irmão, Ciro, o controle da política cearense. Juntos, os Gomes garantiram a vitória acachapante de Dilma no Estado: quase 80% dos votos foram dados a ela. Cid é filiado ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS), minúscula legenda que fez, no último pleito, um governador (o do Amazonas, José Melo) e 11 deputados federais. Não consta que ele tenha relação íntima com a pasta da qual é titular, mas, a bem da verdade, isso não tem importância, pois trata-se de um cargo político.

Mas qual o saldo da administração de Cid Gomes no Ceará? Embora tenha se tornado nacionalmente conhecido por uma declaração infeliz, ele implementou algumas políticas que impulsionaram o ensino fundamental no Estado. Em 2011, durante uma greve de trabalhadores da educação, o então governador afirmou, diante das reivindicações por melhores condições de emprego, que quem entra na vida pública – e ele estava pensando nos manifestantes – deve se sentir motivado não por questões financeiras, mas por "amor e espírito público". Como essa declaração acirrou os ânimos, os grevistas se reuniram em protesto em frente à Assembleia Legislativa, tendo sido dispersados pela Polícia Militar com cassetete, gás pimenta e gás lacrimogênio. Por outro lado, o nível do ensino fundamental no Ceará avançou – as notas subiram, nos primeiros anos, de 4,4 em 2011 para 5 em 2013, e, nos últimos anos, de 3,7 para 3,9 –, embora o desempenho no ensino médio tenha caído de 3,4 para 3,3 no mesmo período, segundo avaliação do do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Escola Básica).  
 


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