quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Estamos a viver ou apenas a sobreviver?

O ritmo da vida moderna tornou-se tão acelerado que muitos de nós já nem o questionamos. Vivemos numa espécie de corrida permanente, em que cada dia começa com urgências e termina com a sensação de que ficou algo por fazer. A produtividade transformou-se numa métrica de valor pessoal e a disponibilidade constante parece ter-se tornado um requisito de sobrevivência, porém, por trás desta normalidade forçada esconde-se um risco cada vez mais evidente, o burnout.

O burnout não é apenas sinónimo de cansaço extremo. É um esgotamento profundo, físico e emocional, que se instala quando ultrapassamos de forma continuada os nossos limites. Surge quando tratamos o descanso como um detalhe dispensável, quando ignoramos a necessidade de parar, quando acreditamos que resistir é sempre a solução. E, no entanto, é justamente esta ideia, a de que aguentar é virtude, que nos empurra para o abismo.


Hoje, qualquer pessoa está vulnerável, a linha que separa dedicação de exaustão tornou-se tão ténue que basta um prolongado período de exigência para a ultrapassarmos sem perceber. A tecnologia ampliou essa fragilidade, estamos sempre alcançáveis, sempre ligados, sempre expostos a estímulos que exigem resposta, a fronteira entre trabalho e vida pessoal dissolveu-se, e com ela dissolveu-se também o espaço para simplesmente existir.

Mais preocupante ainda é que a sociedade continua a glorificar este modo de vida, premia quem nunca falha, quem acumula tarefas, quem está sempre “on”. Raramente valorizamos quem escolhe descansar, quem define limites, quem decide preservar a saúde mental antes de tudo, mas a verdade é que nenhuma carreira, nenhum objetivo e nenhum reconhecimento compensam o desgaste silencioso que se vai acumulando até rebentar.

É, por isso, urgente que repensemos o modo como vivemos, precisamos de recuperar o direito ao ritmo humano, um ritmo que permita pausa, reflexão e cuidado. Precisamos de aceitar que não somos máquinas e de compreender que produtividade sem bem-estar não é progresso, é autodestruição. A ideia de que parar é desperdício deve dar lugar à consciência de que o descanso é parte essencial da vida e não um luxo ocasional.

Viver não pode ser apenas cumprir tarefas, responder a e-mails ou sobreviver ao calendário, viver implica sentir, relacionar-se, estar presente e cuidar de si. Implica reconhecer que o corpo tem limites, que a mente precisa de silêncio e que a felicidade não nasce de uma agenda cheia, mas de uma vida equilibrada. E cuidar de nós não é egoísmo, é responsabilidade. É o gesto que garante que permaneceremos inteiros, saudáveis e capazes de dar o melhor de nós às pessoas e causas que nos importam.

O burnout não é inevitável, mas evitá-lo exige coragem, a coragem de abrandar quando tudo nos empurra para correr, de dizer “basta” quando os limites já foram ultrapassados, de escolher a vida antes que ela se reduza a uma sucessão de obrigações. Talvez o maior desafio do nosso tempo seja justamente este, aprender a viver de forma consciente, recusando a lógica do sacrifício permanente.

Porque, no fim, não se trata de fazer mais, trata-se de viver melhor. E essa escolha, embora difícil, é a única capaz de nos devolver aquilo que a pressa nos tem roubado, a capacidade de sermos verdadeiramente humanos.

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