É lá, em Diougop, que cerca de 1.500 pessoas hoje se reconhecem como refugiados climáticos. A imagem distópica de um descampado árido, pontilhado por habitações idênticas, é uma realidade dura, prova de que os efeitos das mudanças climáticas não são abstrações: são vidas reviradas pelo vento e pela água.
Desde meados da década de 2010, bairros inteiros de Saint-Louis vêm sendo engolidos pela erosão costeira, pelas marés altas, pelas tempestades — por tudo aquilo que classificamos, com pudor técnico, como “eventos extremos”.
Entre 2015 e 2018, centenas de famílias viram o Atlântico avançar pela porta da frente. Primeiro foram levadas para acampamentos emergenciais — improvisados, frágeis, vulneráveis. Depois, com apoio do Banco Mundial e de parceiros internacionais, nasceu Diougop: uma tentativa de restabelecer alguma ordem após o caos, com casas pré-fabricadas fornecidas pela Better Shelter — um pedaço de chão firme depois de o mar ter levado tudo o que era sólido.
No excelente documentário Blue Carbon (do qual já falamos aqui), é possível ver como funciona Diougop. Há uma escola, espaços comunitários, algum atendimento de saúde. Os moradores reclamam do calor intenso e da falta que sentem do antigo lar. Falam do mar — da saudade e do sustento que tiravam dele. É evidente a dor causada pelo afrouxamento dos laços comunitários.
Diougop não é apenas consequência; é alerta. É o que acontece quando metas, números e gráficos não se traduzem em rosto, nome e dignidade.
Ali, famílias inteiras vivem hoje o que muitos ainda insistem em tratar como uma projeção futura. Não é futuro. É agora.
Por isso, Diougop se tornou um símbolo crescente da urgência de uma realocação planejada, que respeite direitos, culturas e meios de sobrevivência. Adaptação climática não é luxo — é sobrevivência.

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