sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O que é ser homem?

O estudo State of UK Men, publicado na semana passada por duas organizações promotoras da igualdade entre os géneros (Equimundo e Beyond Equality), mostra-nos bem o estado de confusão emocional e cultural em que vivem hoje em dia os rapazes e os homens no Reino Unido. Uma realidade que atravessa atualmente todo o mundo ocidental e que as mulheres sentem bem na pele.

O inquérito foi feito a adultos entre os 18 e os 45 anos e 88% dos homens nesta faixa etária acredita que “ser homem significa prover à sua família” ou “ser forte” (83%), neste caso a mesma percentagem dos que respondem que “ser homem” é também “partilhar o trabalho doméstico”. Alguma coisa se interiorizou, pelo menos na teoria.

O problema com o papel do provedor é que já não é preciso ir para a floresta caçar presas, nem ser o único sustento da família, já que a maior parte das mulheres trabalha fora de casa. O sustento da família há muito deixou de ser um papel definido pelo género e, deste ponto de vista feminino de onde escrevo, não haveria razão nenhuma para tanta desorientação. Numa família “tradicional” heterossexual, são os dois a dançar o tango, qual é a dificuldade?

O problema é que a independência financeira das mulheres trouxe um maior equilíbrio nas relações de poder – os homens já não podem dizer “em minha casa, as minhas regras” porque a casa é muitas vezes comprada em conjunto, paga pelos dois, com a luz, a água e o gás bem divididos, assim como as despesas de supermercado. O galo já não canta de galo e parece-lhe o fim do mundo que a galinha já não precise dele numa união que só valha pelo afeto e não pela dependência.

No mesmo inquérito, um em cada quatro homens diz que nunca ninguém se irá apaixonar por ele, 63% acreditam que ninguém quer saber se os homens estão bem hoje em dia e 62% reclamam que “as mulheres têm muitas expectativas sobre como os homens devem ser dentro das relações amorosas atualmente”. Ao mesmo tempo, mais de metade dos inquiridos (54%) não se incomodariam se o seu país tivesse “um líder forte que não se importasse com o Parlamento ou com eleições”, e metade apoia ideias red pill (movimento de apoio à “masculinidade dominante” e ao “privilégio masculino”), através de ideias como “a vida é mais difícil para os homens do que para as mulheres”.

Não, os homens não têm a vida assim tão facilitada, desde logo porque são (mal) educados para um mundo que já não existe. Criados como uns “reizinhos” dentro de casa, os rapazes podem ficar no sofá enquanto as suas irmãs são chamadas para pôr a mesa e lavar a loiça. Depois crescem e não há quem os aguente na tortura desequilibrada do dia a dia e do trabalho doméstico.

Vamos então culpar as mães que os educam? Também – não há aqui trincheiras de género e as crianças aprendem mais pelo exemplo do que pelas palavras no vento. Tal como as ideias ganham mais força quando o exemplo vem de cima, dos líderes eleitos em regimes democráticos ditos avançados que não se coíbem de chamar “piggy” a uma jornalista mulher, como fez Donald Trump há dias.

Ah, mas 68% dos homens britânicos têm medo de que a sua reputação seja destruída se disserem o que pensam. É a insegurança da masculinidade tóxica que prejudica todos, rapazes e raparigas. E isso não é de homem.

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