sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Chacina como estratégia política e tática eleitoral

Neste dia 28 de novembro, completa um mês a chacina mais letal da história do Brasil, com 121 pessoas mortas no Complexo do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. A economia política do crime (EPC), que controla e regulamenta pela força das armas esses territórios, continua a operar normalmente nas localidades massacradas, infelizmente, como é o caso do Comando Vermelho (CV), com a permissão e a organização do poder e a violência estatal.

Julgo ser importante ressaltar esse contexto factual. Sim, é uma realidade, o CV permanece naquelas comunidades, a espoliar aquelas populações, a recrutar jovens negros e pobres para o universo da economia criminal, etc., pois, para a economia política capitalista do crime, aqueles jovens são descartáveis, buchas de canhão e afins. Portanto, nessa altura, parece ser bastante óbvio que a operação policial ordenada pelo governador bolsonarista Cláudio Castro teve um objetivo evidentemente político e eleitoral, seja de dimensão regional, seja nacional e também internacional.

No Brasil, existe um histórico de operações político-policiais antes de eleições visando a obteção de dividendos eleitorais e a sinalização de quais são os candidatos “linha dura no combate ao crime”. A criminalidade nas grandes metrópoles é uma realidade que atinge muitas pessoas, trabalhadores e empobrecidos. Um quarto dos brasileiros vive sob a “governança” da economia política do crime. A extrema-direita tem reiterado a mesma proposta de “guerra às drogas”, endurecimento penal e repressivo sem colher resultados. Mas esse tipo de operação espetacularizada e com uma estética da morte ganha votos.

É nesse contexto que devemos compreender a chacina de 28 de outubro. O governador do Rio de Janeiro esperava conquistar votos para se eleger senador e fazer o seu sucessor. Do um ponto de vista nacional, o bolsonarismo — com Jair Bolsonaro, agora, preso — procura se reorganizar e sair da defensiva recolocando a questão da segurança pública no centro da agenda política do país. Esse grupo identifica ser a segurança pública um dos pontos mais fracos da esquerda e do atual governo, e usa o famigerado eufemístico “consórcio da paz”.

A face internacional da operação policial no Rio foi o de criar um ambiente político e retórico, já que, em termos legais, parece ter ficado sem efeito. E passa por legitimar uma intervenção dos Estados Unidos da América Latina, inclusive no Brasil, para combater os “narcoterroristas”. Ou seja, reconfigurando a velha proposta da direita de “guerra às drogas” com uma envergadura global que fortaleça os interesses mais imediato da administração de Donald Trump no tabuleiro das relações internacionais.

Duas notas finais. Primeira: o erro do Governo Lula ao capitular à lógica eleitoral e ceder à gramática política e à estratégia da direita e extrema-direita foi o de enviar um projeto de lei “antifacção” (de cariz punitivista) para o Congresso. A proposta foi reescrita pela direita bolsonarista, numa derrota política para a esquerda governista. Isso parecia evidente, pois fazer política com demarcações, soluções e gramática impostas pelo neofascismo brasileiro é, por si só, já estar derrotado politicamente.

A outra passa pelas imagens que vimos pela televisão no dia seguinte à chacina. Familiares foram obrigados a resgatar os corpos dos mortos na operação policial. Desde a colonização, o Brasil tem sido marcado por histórias de chacinas de pessoas consideradas sub-humanas, retrato do racismo. A síntese desse imaginário racista brotou da boca do governador Cláudio Castro ao dizer que as únicas vítimas daquela operação foram os policiais.
Carlos Hortmann

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