O custo ambiental associado é brutal. Atualmente, apenas 27% da energia consumida nos data centers provém de energias renováveis (solar, eólica e hídrica). O gás natural representa 26% da energia consumida, mas estima-se um crescimento significativo face às políticas pró-gás da Administração Trump e uma vez que os data centers serão na sua maioria construídos nos EUA.
Ao custo ambiental soma-se o custo financeiro da construção das infraestruturas de produção de energia. Esse, a ser partilhado com os consumidores. O objetivo da carta é que o Estado (americano e os demais onde data centers sejam anunciados – e há vários anunciados na Europa) suporte o investimento. O Estado são os cidadãos, como consumidores – cuja fatura de eletricidade aumenta – e como contribuintes, impostos que serão priorizados para este fim ou para suportar os juros da dívida pública emitida para construir a infraestrutura. E, embora não se questione o papel do Estado na construção de infraestruturas básicas, importa ter presente que este aumento exponencial de capacidade só é necessário porque as big tech recusam qualquer limitação à quantidade de energia consumida 24/h dia, sete dias por semana.
Ou seja, a OpenAI quer uma infraestrutura paga pelos consumidores/contribuintes para permitir um consumo a 100%, a 100% do tempo. Na perspetiva do seu negócio, é totalmente justificável. Se todos os utilizadores, às 24 horas do dia 31 de dezembro, pretenderem converter uma foto ao estilo de um desenho animado japonês, deverão poder fazê-lo. Mas numa perspetiva de gestão de recursos, que são finitos e que têm um impacto ambiental muito significativo, impõe-se regulação para uma gestão eficiente da rede elétrica, que é um bem comum.
O consumo de água e o stresse provocado nos lençóis freáticos é outro dark side do negócio, que a OpenAI prefere não abordar na carta aberta. Os chips são sensíveis e para garantir o seu bom funcionamento há que construir os data centers em locais de baixa humidade, com temperaturas amenas (idealmente entre 18°C e 27°C) e com acesso a água. E, embora água dessalinizada possa ser utilizada, as empresas preferem utilizar água doce, pois provoca menos danos no equipamento. Chama-se nuvem, mas os data centers não estão no céu, mas no solo, em zonas com climas áridos, onde os lençóis freáticos já estão muito stressados pelo consumo agrícola e humano.
As big tech têm recusado divulgar dados exatos sobre a utilização quer de energia, quer de água, nos data centers. Na sequência de um estudo aprofundado realizado pela conceituada MIT Technology Review (a revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts), a Google divulgou que cada promp consumia em média 0.26 mililitros de água. Mas o número por si não significa nada. O objetivo, aliás, parece ser tranquilizar-nos. Afinal, o que são cinco gotas de água… Mas tal é enganador. O Lawrence Berkeley National Laboratory estimou que, em 2023, o consumo de água pelos data centers localizados no território americano atingiu 64 mil milhões de litros e que, em 2028, tal valor poderá quadriplicar, face aos constantes anúncios de novas infraestruturas. Se a utilização de água potável de rios e lençóis freáticos não for regulada, o custo para a ecologia e as populações locais será suportado pela comunidade e não pelos acionistas das big tech. Afinal, em 2028 não vai chover quatro vezes mais…
As ações da Oracle e de outras big tech continuarão a valorizar-se a cada novo anúncio. E com razão… Afinal, grande parte dos investimentos (e dos custos associados) é suportada pelo contribuinte e não pelo acionista. Assim será, enquanto os Estados não assumirem uma regulação efetiva das infraestruturas.

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