Assim, há uma imposição do mercado sob o comando do capital; essa imposição não se exerce por intermédio da força bruta do Estado necessariamente. Ainda que não se possa esquecer que fenômenos como o fascismo ou o populismo tentam fazer, mais uma vez, com que a balança pese para o lado da dominação pelo carisma do chefe, apresentado como “escolha” – vá lá – da população. Uma combinação explosiva se aproxima do nosso horizonte, reunindo imposição do mercado e imposição política.
O desgaste e o cansaço provocados por práticas que excluem a cidadania pode estar trazendo de volta a noção do chefe e do poder mantido pelo indivíduo forte, que tudo resolve e centraliza, justamente, acima das próprias instituições. Isso, com a ajuda de partidos que nada representam em matéria de lutas pela liberdade, limitando-se ao triste papel de extensão ou "puxadinho" do Estado ou até do chefe no poder. É o que nós estamos vendo ao redor do mundo.
Estou convencido de que devemos repensar a noção de liberdade, enriquecendo-a com a inclusão em seu bojo da noção de sujeito coletivo, do homem da pólis. Debater o valor da cidadania enfim. A liberdade do indivíduo não pode se restringir à liberdade individual, centrada em escolhas muitas vezes induzidas. E isso, a meu juízo, por uma razão muito forte: vivemos em sociedade, somos seres sociais, com seus direitos e também deveres. Pertencemos a um coletivo. Indivíduo não se iguala a um posicionamento individualista.
Vale dizer, a participação conta e muito. No caso brasileiro, a sociedade tem buscado ir à luta, apesar das dificuldades. Temos milhões de pessoas trabalhando por conta própria, entre as quais cerca de dez milhões de artesãos. Isso na economia. Mas, na Cultura, o mesmo fenômeno ocorre, com uma criatividade que se espalha pelos quatro cantos do país, com músicos, escritores e atores apresentando suas peças de teatro na própria rua, ao mesmo tempo que cresce o número de envolvidos na busca pela solução dos nossos graves problemas ambientais.
Ou seja, a liberdade vai se exercendo das mais diversas formas, multiplicando seus campos de atuação. Aos trancos e barrancos, mas vai, colocando cada vez mais empecilhos à continuidade de práticas que se assemelham às da chamada República Velha. Falta agora que esta liberdade atinja a área institucional, a área da representação política, e mesmo jurídica, tão necessitada de novos atores e mecanismos.
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