sexta-feira, 17 de outubro de 2025

É dever das escolas ensinar a ter empatia

Não é por acaso que empatia se tornou matéria obrigatória, por lei, em todas as escolas da Dinamarca. Uma vez por semana, crianças e adolescentes, de 6 a 16 anos, se reúnem na “klassens tid”, a “hora da turma”.

Conversam sobre sentimentos, convívio, dificuldades, conflitos, atitudes. O professor é mediador. O objetivo é estimular a cooperação, o respeito, a escuta ativa, reduzir o bullying e o preconceito contra diferentes.

Acho o máximo. Explica também por que esse país escandinavo é o segundo mais feliz do mundo, no ranking da ONU. Ensinar, desde cedo, a ter empatia ajuda a construir uma sociedade mais justa e equilibrada.


Forma cidadãos, não indivíduos. Adultos mais conscientes, capazes de ouvir e suportar opiniões diferentes. Privilegia a cooperação, a solidariedade, no lugar da competição exagerada e estéril.

No Brasil, sobretudo nas grandes cidades, um de nossos incômodos é a falta de empatia. Não falo só de prefeitos e parlamentares que não estão nem aí para a população e não escutam o eleitor. Falo de todo mundo que a gente encontra na rua, na praça, no bar, até mesmo amigos ansiosos para brigar.

Empatia é palavra batida. Resumindo, significa conseguir se colocar no lugar do outro. Sentir o que o outro sente, perceber que o outro precisa de você. Mas não basta entender o significado. Tem que praticar. As pessoas confundem empatia com simpatia, bondade, sorrisos. É outra coisa.

Há mais de 30 anos a Dinamarca incluiu no currículo escolar o ensino de empatia. Em círculo, alunos discutem como foi a semana, se alguém se sentiu desprezado, agredido, ridicularizado. É uma disciplina tão importante quanto matemática.

Na “klassens tid”, não existem notas boas ou ruins, a ideia é cultivar o “hygge”, que significa aconchego, junto a pessoas queridas. Rejeitar ambientes hostis. Construir uma convivência respeitosa. O inverso do que vemos nas redes sociais e em muitos grupos de WhatsApp. E entre parentes.

Ensinar empatia é ensinar humanidade. Seria impossível a Dinamarca eleger um presidente que defendesse tortura, por exemplo. Ou que não se importasse com 700 mil mortos na pandemia e achasse falta de ar um mimimi. Inimaginável.

Bom saber que, no Brasil, existem escolas que tentam transmitir noções de cidadania. Uma é a Escola Parque, na Gávea. A partir do sexto ano, os alunos se reúnem uma vez por semana com a psicóloga. Para aprender a refletir. A disciplina se chama PEMSA. Psicopedagogia em sala de aula.

“Nós aprendemos sobre acolhimento, respeito, não pensar mal das pessoas antes de conversar e tentar entender, discutimos valores éticos, vemos vídeos e escutamos histórias de superação, falamos de bullying, racismo”, disse Nina Rezende Prada, 12. Minha neta.

Em nosso Brasil de tantas carências, falta muito para que o ensino de empatia seja promovido a política pública. Um luxo ou uma necessidade? Essa preocupação continua restrita a escolas de elite – e é uma pena, porque vemos e sofremos todo dia episódios de agressão gratuita, de incivilidade absurda.

É evidente que não dá para comparar as duas sociedades. A Dinamarca e o Brasil são países diametralmente opostos em quase tudo. A população dinamarquesa é quase igual à da cidade do Rio de Janeiro.

Mesmo assim, há muitos pontos em comum na juventude dos dois países. A necessidade de se sentir amado e acolhido é universal. Uma hora por semana para aprender a ouvir, falar e compreender não é tanto tempo assim. Ajuda a reduzir o assédio, a inadequação ou a solidão entre adolescentes.

E quem sabe, poderíamos almejar, na idade adulta, a um convívio cotidiano mais cordial e equilibrado, porque a falta de educação virou uma praga no Brasil.

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