quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A escola que morreu

O sistema de ensino atual vem do séc. XIX, situando-se na lógica da Revolução Industrial, quando se tornava necessário formatar operários para as fábricas segundo um modelo uniforme. Nesse contexto, o professor era o detentor dos saberes e passava-os a um conjunto de alunos, de modo semelhante e ao mesmo tempo, numa sala de aula através duma dinâmica unidirecional.

Hoje as crianças e adolescentes recebem muitíssimo mais conhecimento através de outros suportes de informação via internet, do que dum qualquer professor e, por isso, as aulas tornaram-se aborrecidas para muitos, tornando esse tempo um frete, em especial para os que estão mais à frente.

O modelo escolar vigente baseia-se num certo esmagamento da individualidade devido à normalização geral, visto que os alunos são tratados como se fossem uma massa igual, e num processo de competitividade baseado em testes e notas. Apesar dos esforços dos bons professores, o sistema escolar tende a não se compadecer com as reais necessidades dos alunos em termos de identidade, de pertença, de segurança e de valorização pessoal.



De facto, temos um ensino centrado na ditadura do currículo e não no aluno, como preconizava há muito Carl Rogers. Como resultado temos dois problemas sérios: o abandono escolar e uma verdadeira epidemia de distúrbio mental entre os alunos.

Além do mais, veja-se a perfeita inutilidade e falsidade dos rankings das escolas, em que se compara o que não é comparável. Na instrução primária ensinaram-me que nunca se pode somar batatas com cebolas, mas hoje comparam-se resultados escolares sem levar em conta o tipo de escola, a comunidade humana em que ela se situa ou as habilitações literárias e condições sociais dos pais dos alunos. Um embuste.

A escola devia perseguir, como grande objetivo da educação, a capacidade de ajudar os jovens a florescer na vida, desenvolvendo as suas potencialidades, talentos naturais e vocações, atribuindo-lhes as competências de que necessitem para tal. Sobretudo, precisamos duma escola que prepare as crianças para a vida, ensinando-lhes literacia financeira, economia doméstica, o Código da Estrada, primeiros socorros, e outras matérias muito práticas, além das competências sociais.

Por outro lado, precisamos duma escola realmente ligada à comunidade local, às empresas, instituições sociais, desportivas, culturais e religiosas locais, que tenha em conta não a massificação mas as especificidades da comunidade humana envolvente.

Há outra forma de pensar a educação segundo as boas práticas de outros países, em que existem salas dedicadas a diferentes áreas, os docentes funcionam mais como facilitadores e conselheiros, e onde os testes iguais para todos são substituídos por projectos elaborados segundo os interesses dos alunos, os quais redundam em créditos atribuídos, igualmente de acordo com uma tabela previamente estabelecida de horas de trabalho.

Os professores são essenciais em todo este processo, não para coartar a iniciativa e criatividade dos alunos mas para os apoiar nos processos de descoberta e desenvolvimento, com vista a uma verdadeira comunidade de aprendizagem.

Nas escolas públicas e a partir do segundo ciclo, existe a necessidade urgente duma disciplina de “Introdução ao fenómeno religioso”, onde os alunos tenham acesso às grandes linhas das principais religiões do mundo, nesta sociedade globalizada e cada vez mais heterogénea. Será enriquecedor conhecer as bases de fé das religiões, a sua história, interditos, alimentação, vestuário, ritos e crenças. Só assim deixarão de olhar para os migrantes de forma desajustada – ou para os nacionais de outro país se eles próprios emigrarem – e respeitarão a diferença a que os outros têm tanto direito como eles mesmos.

Então e porque não muda a escola? Por um lado porque os atuais professores não foram treinados para um novo tipo de ensino, mas também porque os sindicatos estão demasiado centrados nas condições de trabalho e regalias dos profissionais do ensino, raramente funcionando como força inovadora. Mas sobretudo porque o País, sendo pequeno, tem uma tutela da educação que tudo quer controlar, dificilmente abrindo mão dos seus velhos poderes em nome duma autonomia saudável e adequada das escolas.

Uma coisa é certa. Se a escola não servir para potenciar a vocação, interesses e sensibilidades dos alunos, possibilitando-os a crescer segundo a individualidade de cada um, para pouco serve. A escola-unicamente-transmissora-de-conhecimentos morreu. Precisamos de ser capazes de dar espaço a uma nova escola, que olhe os alunos como indivíduos únicos, pois só assim poderão singrar nesta sociedade massificadora.

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