A Inteligência Artificial (IA) deixou de ser um brinquedo futurista para se infiltrar em quase tudo: do telemóvel ao hospital, do tribunal à sala de aula. Hoje, ninguém ousa negar o seu potencial transformador. Mas há uma pergunta que insiste em ser feita: estamos a construir o futuro ou a preparar a nossa própria ruína?
Vivemos embriagados pelo fascínio tecnológico. Máquinas que falam como nós, que pintam, que escrevem poemas e que até aconselham políticos. E enquanto aplaudimos, esquecemo-nos de olhar para o outro lado: o abismo. Porque a mesma IA que ajuda um médico a salvar vidas é a que cria imagens falsas para manipular eleições. É a que escreve discursos persuasivos… para espalhar mentiras. É a que imita a nossa voz… para roubar o nosso dinheiro.
Um estudo recente mostrou que os criminosos já usam IA com mais eficácia do que os bancos conseguem detetar. Pensemos bem: já não é o hacker solitário num quarto escuro, é a máquina a trabalhar contra nós, com uma frieza implacável. E nós? Ficamos para trás, confortados por regulamentos que mal chegam a tempo de serem impressos.
A União Europeia aprovou finalmente uma lei para a IA. Multas pesadas, classificação de riscos, fiscalização. Muito bonito no papel. Mas será suficiente? Regular a Inteligência Artificial é como tentar meter um tigre enraivecido numa gaiola de galinhas. A tecnologia não espera por resoluções parlamentares nem se dobra a burocracias. Enquanto se discute em Bruxelas, os riscos multiplicam-se.
E o mais perturbador é isto: a IA já toma decisões que ninguém sabe explicar. A célebre “caixa negra”. Aceitamos que algoritmos decidam quem recebe um empréstimo, quem passa num exame ou quem merece uma entrevista de emprego, mas não sabemos como. Que tipo de democracia é esta, em que máquinas decidem sem prestar contas?
Não nos iludamos: a IA não é neutra. Ela é moldada por quem a programa e usada por quem a controla. E, neste momento, não somos nós que estamos no comando. A corrida tecnológica é liderada por gigantes empresariais e potências militares. Nós, cidadãos, somos apenas cobaias num laboratório à escala global.
O dilema é brutal: queremos uma IA ao serviço do bem ou um monstro fora de controlo? Não se trata de ficção científica. Trata-se de política, ética e coragem. Ou decidimos agora domesticar esta besta tecnológica, ou arriscamo-nos a acordar um dia e descobrir que já não temos escolha.
E, nesse momento, será tarde demais.

Nenhum comentário:
Postar um comentário