segunda-feira, 23 de junho de 2025

Rumo ao abismo: Israel, Irã e o colapso moral do Ocidente

Há verdades que o poder se recusa a reconhecer — mesmo quando são gritantes. A guerra contra o Irã começou. Como sempre, os Estados Unidos estão envolvidos, direta ou indiretamente, permanecendo resolutamente ao lado de Israel e apoiando uma escalada cujas consequências são imprevisíveis e potencialmente catastróficas. Nem o direito internacional, a prudência estratégica, nem a memória dos oprimidos parecem restringir esse compromisso.

Mas o Irã não é um mero ator regional. É uma civilização enraizada em milênios de história, portadora de um dos legados culturais mais antigos da humanidade. Pode-se atacar suas instalações, assassinar seus cientistas ou infiltrar-se em suas instituições — mas não se pode desarraigar uma nação que sobreviveu a impérios, nem fabricar um Estado cliente dissociado da alma de um povo consciente de sua identidade e história.

Qualquer ataque a essa consciência coletiva — já em curso — só fortalecerá a coesão nacional. Isso ficou evidente durante a guerra imposta pelo Iraque na década de 1980. A história ainda pode se repetir. Pois este novo conflito não visa apenas um regime; ele rompe a ordem geopolítica regional — do Estreito de Ormuz ao Mediterrâneo Oriental. Alianças mudam, equilíbrios vacilam e a lógica da guerra se reafirma — não por necessidade, mas por meio de cálculos imprudentes e ansiedade descontrolada.

Essa guinada em direção ao confronto, impulsionada tanto pelo pânico israelense quanto pela condescendência americana, expõe a fratura moral mais profunda do Ocidente. De um lado, estão as elites políticas reféns de lobbies pró-Israel; do outro, uma geração mais jovem — incluindo muitos judeus — cada vez mais indignada com a brutalidade em Gaza e a impunidade de um Estado que reivindica todos os direitos e não reconhece nenhuma responsabilidade.

A dissidência não se limita mais às franjas radicais. Ela transcende as linhas tradicionais, atraindo apoio de intelectuais, empreendedores e figuras públicas. Indivíduos como Jeffrey Sachs e o fundador da Ben & Jerry's ousaram romper o silêncio para denunciar o que é cada vez mais percebido como uma trajetória genocida, realizada à vista de todos, sob a proteção de uma ordem internacional complacente.

Ao se alinharem incondicionalmente a Israel — um Estado que trava uma guerra de destruição em Gaza enquanto provoca um conflito aberto com o Irã — os Estados Unidos não estão defendendo seus interesses estratégicos. Estão abandonando-os. Os estoques de munição estão esgotados, a credibilidade está em frangalhos e a coerência estratégica entrou em colapso — tudo isso enquanto a capacidade de Washington de responder a desafios críticos na Ásia, particularmente em relação à China, continua a se deteriorar.

Mas a crise não é apenas estratégica — é moral. Os Estados Unidos não agem mais por cálculo ou medo, mas por uma espécie de obediência reflexiva. Israel dita; Washington obedece.

Quem mencionou que o hospital iraniano foi atacado há dois dias? Ou as dezenas de hospitais em Gaza sistematicamente reduzidos a escombros em uma campanha marcada tanto por sadismo quanto por intenções genocidas? A mídia ocidental permanece em silêncio ou distorce os fatos, dependendo se o alvo é israelense ou não.

É importante lembrar que o Centro Médico de Soroka, alvo do Irã, não é uma mera instalação civil. Ele também funciona como um centro médico para o exército israelense — um centro de comando médico de fato, inserido em um complexo militar mais amplo. Ele atende pessoal envolvido em operações, incluindo aquelas em Gaza.

Essas informações, anteriormente referenciadas em fontes públicas como a Wikipédia, foram removidas, embora versões arquivadas permaneçam acessíveis.

Essa duplicidade moral se reflete ainda mais na crescente instrumentalização de instituições internacionais por potências ocidentais. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), outrora símbolo de supervisão neutra e baseada em regras, agora opera cada vez mais como um veículo para o avanço de objetivos políticos e de inteligência. Sua credibilidade já foi minada durante o caso do Iraque. Hoje, sua condução do caso nuclear iraniano levanta dúvidas semelhantes.

Por trás da linguagem técnica e das formalidades processuais, escondem-se os interesses dos Estados Unidos, de Israel e de seus aliados europeus — interesses que moldam as inspeções, influenciam os relatórios e corroem os próprios alicerces da confiança institucional. Com essa erosão silenciosa, o próprio princípio da neutralidade está sendo desmantelado.

Cumplicidade, dois pesos e duas medidas, cegueira estratégica — ficamos horrorizados com um ataque com mísseis a uma instalação ligada a um exército de ocupação genocida, mas permanecemos impassíveis diante dos ataques sistemáticos a hospitais palestinos, onde bebês prematuros morrem por falta de energia. O que antes era preconceito se consolidou em doutrina.

Os Estados Unidos retornaram ao que já foram ocasionalmente em sua própria história: uma força sem bússola, manipulada por forças além do seu alcance. Um gigante, subjugado e redirecionado, conduzido a mais uma arena do Oriente Médio como um animal treinado, desprovido de autonomia. Não é mais servidão — o termo implica um grau de dignidade. É domesticação.

Washington não é mais um centro de tomada de decisões soberanas. É um palco. E o outrora orgulhoso gigante anglo-saxão a circunda indefinidamente, amordaçado e obediente, solto ao capricho de um mestre que ninguém ousa nomear — um mestre que não busca paz nem segurança, mas sim domínio, mesmo ao custo de uma desordem apocalíptica.
Mohamed El Mokhtar Sidi Haiba

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