sexta-feira, 13 de junho de 2025

Ibero-América enfrenta o desafio de uma transição verde justa

A caminhada rumo à sustentabilidade não tem um caminho único nem linear. Há múltiplos caminhos que devem ser seguidos de forma coordenada: da transformação financeira à construção de amplos pactos sociais , incluindo a pedra angular fundamental e frequentemente subestimada da educação. Compreender essa diversidade de abordagens não apenas amplia nossa compreensão de questões urgentes como a crise climática, mas também nos permite elaborar respostas mais justas e duradouras.

Um dos pilares centrais dessa transição é, sem dúvida, o financiamento . A Ibero-América, e a América Latina em particular, emerge como uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, apesar de historicamente ter contribuído menos para o aquecimento global. Esse paradoxo é fundamental para a compreensão do princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, reconhecido na Declaração do Rio de 1992 e reforçado pelo Acordo de Paris , que ressalta o dever do Norte Global de subsidiar os esforços de mitigação e adaptação do Sul Global.

Mas a discussão sobre financiamento não pode ser dissociada da realidade produtiva da região. A América Latina detém 60% das reservas mundiais de lítio e cerca de 40% das reservas de cobre, recursos estratégicos para a transição energética. Ao mesmo tempo, permanece fortemente dependente de atividades como mineração, agricultura intensiva e produção de petróleo — setores que geram renda, mas também têm impactos ambientais significativos.

Portanto, considerar o financiamento para a transição ecológica requer uma abordagem sistêmica. Não se trata apenas de canalizar recursos, mas também de redesenhar o modelo de integração global da região, permitindo que ela passe de uma economia extrativa para uma economia regenerativa baseada na sustentabilidade.


Nesse mesmo sentido, é essencial construir pactos sociais amplos. A transição verde justa não será alcançada sem diálogo e consenso envolvendo governos, empresas e sociedade civil. Na América Latina, onde as desigualdades estruturais limitam profundamente as oportunidades, tais acordos devem ser democráticos e participativos.

Promover esses pactos sociais pode colocar os governos em uma posição difícil perante as elites econômicas. Por um lado, elas precisam de seus investimentos para acelerar a transição energética; por outro, precisam regular ou mesmo limitar certas atividades econômicas insustentáveis. Tudo isso mantendo o difícil equilíbrio entre sustentabilidade, redução da pobreza e crescimento econômico.

Nesse contexto, a aliança entre a América Latina e a União Europeia apresenta uma oportunidade estratégica. Iniciativas como o Pacto Verde traçam um roteiro ambicioso rumo à neutralidade climática até 2050, mas precisam ser adaptadas às realidades dos países em desenvolvimento.

A região apresentou progressos notáveis ​​tanto em termos de energias renováveis ​​quanto de estruturas de proteção legal. Além disso, há um claro apoio da população à cooperação birregional que promova um novo modelo de desenvolvimento, como demonstrado pelo projeto Energytran, promovido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), que busca contribuir para uma transição justa e equitativa em ambas as regiões.

E é aqui que a educação surge como condição fundamental para dar sentido a tudo isso. Um futuro sustentável não será possível sem uma educação transformadora. A sustentabilidade deve ser construída a partir da sala de aula, nos processos educacionais e na forma como ensinamos a habitar o planeta de forma responsável.

Os sistemas educacionais devem oferecer ferramentas para construir uma sociedade mais justa e equitativa: habilidades verdes, conexão com a terra, metodologias ativas e professores capacitados para promover mudanças. As escolas devem ser espaços para a construção de uma visão compartilhada de futuro, que promova a vida, a convivência e a sustentabilidade.

Essa transformação educacional requer apoio político e um lugar prioritário na agenda internacional. Nesse contexto, espaços de governança global como a COP30 — a próxima conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a ser realizada em 2025 no Brasil — são essenciais. Não apenas porque permitem o cumprimento de compromissos internacionais ou a visibilidade da urgência de ações, mas também porque são uma plataforma para colocar a educação no centro do debate.

Este evento de renome internacional, que este ano conta com o apoio organizacional da OEI, deve, além de abordar questões-chave como ação climática e financiamento, reconhecer a educação para o desenvolvimento sustentável como um pilar estratégico. Mais do que um gesto simbólico, é um compromisso com o longo prazo e com a construção de uma cidadania capaz de apoiar e sustentar acordos globais.

Para tanto, é necessário fortalecer o sistema multilateral por meio de uma coordenação eficaz entre os níveis multilateral, regional e nacional, alinhando os planos nacionais de desenvolvimento com os objetivos internacionais. Somente assim será possível mobilizar financiamento, promover soluções duradouras e posicionar a educação como motor de uma transição justa.

A América Latina desempenha um papel crucial no futuro do planeta. Abriga metade da biodiversidade mundial e quase 60% de suas florestas tropicais. Seu caminho rumo à sustentabilidade definirá não apenas seu destino, mas o de toda a humanidade. Avançar nessa direção exige compromisso político, consenso social e uma educação capaz de formar cidadãos comprometidos e solidários.

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