terça-feira, 12 de março de 2024

Negro morrendo, tô nem aí

Não há como pensar sobre segurança pública no Brasil sem considerar o racismo institucional.

A conclusão deveria ser óbvia para quem acompanha o noticiário nacional. País afora, são reiteradas as situações de abuso e violência cometidos por agentes de forças policiais contra pessoas negras.

Tem jovem tomando tiro pelas costas, no DF; disparo de fuzil a queima roupa contra homem desarmado, no RJ; prisão da vítima no lugar do agressor, no RS; morte por asfixia em viatura oficial, no SE; E por aí vai...


Contudo, na mais importante unidade da federação o governador decidiu dar de ombros, ironizar e assumir que não está "nem aí" para denúncias de abusos contra negros e pobres durante a Operação Verão, da PM, na Baixada Santista, após a morte de um soldado.

Registros oficiais apontam que, em São Paulo, as mortes em decorrência de intervenção policial subiram 94% nos dois primeiros meses de 2024, segundo a Conectas Direitos Humanos e a Comissão Arns, que apresentaram queixa à Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada.

"Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí", disse Tarcísio de Freitas a respeito dessa que é a segunda ação mais letal da história do Estado. Perde só para o massacre do Carandiru.

Impressionante o desrespeito à cidadania e a afronta aos direitos humanos. Mas a história ajuda a lembrar que a origem da nossa polícia militar remonta ao século 19, com a chegada de Dom João 6º, em 1808. À época, foi criada a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia do Rio de Janeiro para proteger os nobres. Um doce para quem adivinhar: proteger de quem?

Segurança pública inclui diversas nuances e é, com certeza, um tema tão importante quanto complexo. Mas é preciso admitir que está atravessado pelo vale tudo colonialista alimentado pelo preconceito e pelo racismo.

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